Linda Bimbi (1925-2016)
Homenagem a uma educadora e defensora dos direitos humanos
No dia 11 de agosto de 2016, aos 91 anos, faleceu Linda Bimbi, italiana que morou vários anos no Brasil, em Minas Gerais e no Amapá, inicialmente como religiosa da Congregação das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, e depois que saiu da instituição eclesiástica passou a integrar uma pequena comunidade de ex-freiras comprometidas com as transformações sociais.
Devido a sua atuação na linha da pedagogia freireana, no apoio aos marginalizados e perseguidos pela repressão da ditadura militar, tornou-se inviável a sua permanência no Brasil e retornou à Europa logo após o AI-5. Fixou-se na Itália no início dos anos de 1970 e trabalhou com Lelio Basso na preparação e realização do Tribunal Russell II para os crimes contra a humanidade cometidos pelos governos militares na América Latina, com suas três sessões corridas em Roma – 1974, Bruxelas – 1975 e Roma – 1976.
Dedicou-se à Fundação Internacional pelo Direito e Liberdade dos Povos, com Lelio Basso, e ao Tribunal permanente dos Povos, com Gianni Tognoni. Também era responsável pela escola de jornalismo, da Fundação Lelio e Lisli Basso. A conheci em fevereiro de 2013, quando estive na Fundação Lelio e Lisli Basso, como pesquisadora no projeto “Digitalização do acervo da Fundação Lelio Basso – Tribunal Russell II”, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em convênio com o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba.
A impressão que tive foi a melhor possível, pela sua atenção e comentários sobre o seu tempo no Brasil. Com sua fala serena e mansa, já um pouco cansada pela idade, dedicou bastante tempo a nossa conversa, e presenteou-me com dois livros de sua autoria: “Lettere a um amico: Cronache di liberazione al femminile plurale” (1990), e “Sono emigrante: Luiza Erundina si racconta a Linda Bimbi” (1996). Além de mim, a equipe brasileira contou com a estagiária Arlene Xavier Santos Costa, que também teve a atenção de Linda Bimbi, falando sobre a sua permanência no Amapá, por coincidência terra de nascimento de Arlene.
Na ocasião, percebi todo respeito e cuidado que todos da Fundação tinham por Linda Bimbi, em especial as brasileiras em especial as brasileiras Monica (Maria Elvira Gomes) e Ruth (Maria Inês Libânio, prima de Frei Betto), ex-freiras como Linda que trabalharam com ela em Minas Gerais e a acompanharam para vida em Roma. O mundo perde uma educadora e defensora de todos os povos oprimidos, mas a sua trajetória servirá de exemplo para a continuidade da luta contra a violação dos direitos humanos, independente de fronteiras nacionais. Viva o legado de Linda Bimbi!
Lúcia de Fátima Guerra Ferreira
Profa da UFPB/NCDH
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