Opinião

Alexandre Náder

Alexandre Náder

Estamos diante de uma questão extremamente grave e que atinge uma parcela muito grande, majoritária, da população brasileira: a imposição de uma reforma educacional (mais uma imposição, mais uma reforma educacional), voltada para o Ensino Médio, etapa conclusiva da Educação Básica.

Imposição porque feita pela via da Medida Provisória, a MP 746/16, suprimindo, desse modo, qualquer possibilidade de debate, para a formulação de seu conteúdo, pela população e pelos efetivos sujeitos em presença na concretização do Ensino Médio em nosso país: professores, estudantes, pais/responsáveis, agências de formação de professores, demais trabalhadores e profissionais da Educação… Imposição porque, mais uma vez, saída dos gabinetes do governo em Brasília, desconhece as condições concretas do funcionamento dessa etapa da Educação Básica e desrespeita, com seu propósito de discurso único, naturalizado, a experiência e as aspirações dos principais atingidos pelas mudanças que busca implantar.

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Denise Mattos Monteiro

Uma das características da sociedade brasileira é a arrogância e a prepotência presentes no comportamento de grande parte de sua classe dominante, mas também no comportamento daqueles que, não pertencendo a essa classe, gostam de se considerar como parte da “elite” do país.
O retrato mais acabado desse comportamento está contido no uso da malfadada expressão “você sabe com quem está falando?” Pronunciada em situações as mais diversas, mas sobretudo naquelas em que um vislumbre de revolta “dos de baixo” se apresenta, essa frase enfatiza a desigualdade social, naturalizando-a, e reforça o autoritarismo político. Ela tem por finalidade última lembrar àquele que a ouve o quão inferior ele é ao que a pronuncia. E, evidentemente, tem servido para garantir a muitos dessa “elite” ampliada impunidade de seus crimes perante a lei, garantida por advogados muito bem pagos.
Essa, assim como outras características das relações sociais no Brasil, é mais bem compreendida quando conhecemos suas origens históricas, em outras palavras, quando consideramos nosso passado escravista. A arrogância e a prepotência são legados de uma sociedade que esteve baseada na presença de senhores e escravos por mais de 300 anos. A abolição da escravidão indígena, em 1755, e da escravidão negra, em 1888, não aboliu a mentalidade correspondente a essa estratificação social, pois, em diferentes graus e contextos, ela permaneceu e permanece ainda entre nós. A depreciação do trabalho braçal em contraposição à valorização da figura do “doutor” com privilégios garantidos, por exemplo, é uma de suas faces. Continue lendo

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Tereza Correia da Nóbrega Queiroz

Juventude, Educação e Memória

Vivemos uma época desmemoriada.

O que faz pessoas que viveram uma ditadura militar saírem as ruas com cartazes, demandando a volta dos militares ao poder? É uma atitude reveladora da distância em que estamos da construção de uma cultura política verdadeiramente democrática. Outro sintoma desta carência é o desejo de destruição do outro, de negação de quem pensa diferente, de quem age diferentemente do modelo considerado por alguns como “normal”. A ausência dessa cultura se traduz em flagrantes e graves desrespeito aos direitos humanos de negros, homossexuais, mulheres, pobres, moradores de rua. Em intolerâncias e agressões no facebook ou nas ruas como aconteceu com a atriz Letícia Sabatella. Portanto a pergunta sobre quanto da ditadura ainda está presente entre nós é pertinente no cenário atual da sociedade brasileira.

A nossa história é rica de exemplos de transições construídas pelo alto, pela cúpula de partidos e representantes de grupos hegemónicos. Foi assim com a transição da ditadura para o estado democrático de direitos em meados dos anos 80. Ao clamor das ruas pelas eleições diretas, nossos representantes fizeram uma conciliação pelo alto, organizando uma eleição indireta e relegando ao silêncio os crimes da ditadura e o debate sobre as violências institucionais. E foi preciso muito esforço para que se instalassem processos como o das comissões da verdade que se debruçaram sobre as histórias dos mortos pela ditadura, dos que sofreram torturas e violências de toda ordem, para tornar efetivo um direito humano fundamental que é o direito humano à memória e à verdade.

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