Artigos de Etienne Samain (1985-2000): cada texto, disponibilizado abaixo em formato de arquivo portátil (portable document file) [PDF], está acompanhado de sua referência original (para citação) e de um curto comentário acerca de seu contéudo. Estão organizados em ordem crescente por ano de publicação.
– A vontade de ser: notas sobre os índios Urubu-Kaapor e sua Mitologia. Samain, Etienne. Publicado em: Revista de Antropologia, São Paulo, USP, n. 27-28, p. 245-262, 1985. [PDF]
Em 1980-81, subíamos o rio Gurupy (que faz a divisa do Estado de Maranhão com o do Pará) para encontrar, trinta anos depois das primeiras pesquisas antropológicas realizadas por Darcy Ribeiro e Francis Huxley, os índios Kaapor. Devíamos permanecer quatro meses em Gurupiúna, recolhendo novas narrativas míticas dessa comunidade de língua tupi e procurando desvendá-las à luz da própria e possível exegese indígena. É o relatório dessas duas expedições que oferecemos no presente artigo, no qual levantamos uma problemática mais ampla: a das relações entre culturas da oralidade e da escrita.
– Reflexões críticas sobre o tratamento dos mitos. Samain, Etienne. Publicado em: Revista de Antropologia, São Paulo, USP, n. 27-28, p. 233-244, 1985. [PDF]
Partindo das minhas vivências no meio de sociedades indígenas brasileiras ágrafas (Os Kamayurá e os Ka´apor), quando reunia, nelas, produções culturais (seus mitos em especial), proponho: 1) precisar o que os mitos parecem representar para essas sociedades sem escrita; 2) medir tudo o que devemos ao Claude Lévi-Strauss e ao seu O Pensamento selvagem, precisando todavia algumas das nossas ponderações críticas; 3) levantar uma reflexão mais abrangente no que diz respeito ao encontro de culturas que, por serem justamente diferentes, se tornam cada vez mais solidárias, umas com relação às outras, visto o momento histórico de intercâmbio cultural ao qual nos convida o século presente.
– Antropologia visual, mito e tabu. Samain, Etienne e Sôlha, Hélio. Publicado em: Cadernos de textos. Antropologia visual. Rio de Janeiro, Museu do Índio, p. 5-7, 1987. [PDF]
Depois de tanto desenvolvimento tecnológico, com diversas câmeras mais leves, boas e baratas, como podem os antropólogos ainda não terem incorporado as imagens e câmeras dentro de seus métodos de pesquisa? A questão, já posta por Margaret Mead em 1973, seria ainda atual neste 2º milênio? Nesse artigo vemos alguns passos importantes sugeridos, desde os fins dos anos 1980, para o desenvolvimento da antropologia visual no Brasil.
– Mito e fotografia: as aventuras eróticas de Kamukua. Samain, Etienne. Publicado em: Cadernos de textos. Antropologia visual. Rio de Janeiro, Museu do Índio, p. 46-50, 1987. [PDF]
Quais relações podem unir mito e fotografia? Entre a antropologia social e as artes visuais, esse artigo oferece um breve mergulho antropológico na problemática da imagem como criação e interpretação do mundo. Kamukua, saído das narrativas cosmológicas Kamayurá do Alto Xingú, é a personagem que nos conduz nesse caminho, pelo qual descobrimos que a palavra indígena Moroneta tem algo importante a nos ensinar sobre fotografia.
– Entre a arte, a ciência e o delírio: a fotografia médica francesa na segunda metade do século XIX. Samain, Etienne. Publicado em: Boletim do Centro de Memória da Unicamp, Campinas, v. 5, n.10, p. 11-32, 1993. [PDF]
Como a comunidade científica francesa se apropriou dos primeiros processos fotográficos inventados no século XIX? As expectativas desses homens de ciência sobre as imagens fotográficas chegam a ser espantosas. Esse artigo nos leva a perceber como a fotografia foi usada desde o campo da psiquiatria até à identificação de corpos (e almas!). São os notáveis trabalhos de Albert Londe, Hippolyte Baraduc, Francis Galton (primo de Darwin) e Cesare Lombroso, entre outros, que nos conduzem do hospício da Salpetrière à Prefeitura de Polícia de Paris, onde está em gestação a moderna carteira de identidade, com o seu significativo retrato individual, que temos até hoje.
– A Pesquisa fotográfica na França: notas antropológicas e bibliográficas. Samain, Etienne. Publicado em: Textos de cultura e de comunicação, Salvador, nº 29, p. 109-127, 1993. [PDF]
Após mais de 150 anos de invenção da fotografia na França qual seria o estado dessa arte? O autor situa sua própria trajetória nesse artigo para, a partir daí, pensar a fotografia desde suas primeiras etapas de produção até a revolução do imaginário trazida pelas imagens informáticas. Um levantamento generoso que passa por Roland Barthes, André Rouillé e muitos outros estudiosos, nos introduz no fascinante universo do pensamento provocado pela fotografia.
– A caverna obscura: topografias da fotografia. Samain, Etienne. Publicado em: Revista Imagens, Campinas, Unicamp, n.1, p. 50-61, mar 1994. [PDF]
Por quantos horizontes podemos ver as fotografias, suas histórias e críticas? Nesse artigo Etienne Samain oferece uma síntese instigante e repleta de detalhes sobre as novas críticas e historiografias da fotografia. Revela-nos o efervescente campo de pesquisas fotográficas no Brasil, uma das quais, por Boris Kossoy, já há várias décadas demonstrara a invenção da fotografia na cidade de Campinas, estado de São Paulo, no século XIX. Além das várias obras fotográficas pesquisadas e publicadas recentemente no Brasil, o artigo aborda também discussões da crítica contemporânea, marcadas pelas contribuições de Roland Barthes e Charles S. Peirce.
– Oralidade, escrita, visualidade: meios e modos de construção dos indivíduos e das sociedades humanas. Samain, Etienne. Publicado no livro: Perturbador mundo novo. História, psicanálise e sociedade contemporânea. 1492-1900-1992. Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (org.) e Luis Carlos Uchôa Junqueira Filho (coord.) São Paulo: Escuta, 1994, p. 289-301. [PDF]
De que maneira nossas sociedades se transformam na medida em que a visualidade avança a passos largos em seu estágio informático? Num percurso antropológico que passa pela pesquisa com as sociedades Kamayurá do Alto Xingu, em 1977, até a criação do Programa de Pós-Graduação em Multimeios na Unicamp, em 1984, o autor nos convida a perceber as diversas diferenças e implicações dos meios e modos de comunicação humana em nossas vidas. Numa discussão que passa pelas obras de Jack Goody e Claude Lévi-Strauss, pergunta-se como, entre a narrativa oral xinguana e o programa de computador criador de imagens, novos indivíduos e sociedades se descortinam?
– Para que a antropologia consiga tornar-se visual, com uma breve bibliografia seletiva. Samain, Etienne. Publicado no livro: Brasil: comunicação, cultura e política. Antônio Fausto Neto (org.) Rio de Janeiro: Diadorim, 1994, p. 33-46. [PDF]
Em que medida a antropologia pode se tornar visual? A questão, aparentemente simples, recobre todo um universo de interrogações mais amplas e fundamentais, apresentadas ao leitor em três seções. A complexidade dos desafios trazidos pela pesquisa com as imagens, especialmente no campo da antropologia visual, é apresentada sinteticamente ao leitor nesse artigo. Pode aí ser vislumbrado um amplo programa de pesquisa, entre o sensível, o científico, o artístico, o histórico, além de outros aspectos, os quais todavia, deixam claro que a antropologia foi, é e será visual. Seja pela via dos tantos antropólogos pioneiros que da imagem se serviram já no século XIX, seja pela indispensável consideração antropológica das artes e produções visuais contemporâneas.
– ´Ver´ e ´dizer´ na tradição etnográfica: Bronislaw Malinowski e a fotografia. Samain, Etienne. Publicado em: Revista Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, UFRGS, ano 1, n. 2, p. 23-60, jul-set 1995. [PDF]
O que sabemos sobre o famoso antropólogo polonês em termos das suas fotografias tomadas nas ilhas Trobriand na segunda década do século XX? Esse artigo, que sinaliza a aproximação do autor com o Núcleo de Antropologia Visual da UFRGS (NAVISUAL), oferece um mergulho na obra visual fotográfica de Malinowski para revelar um intricado relacionamento entre o texto e as imagens publicadas em três grandes livros. A hipótese de que a teoria funcional de Malinowski se fazia ver no modo como tomou e organizou suas fotografias, foi retomada posteriormente por Michael Young, num livro sobre as fotografias não publicadas do antropólogo polonês.
– Questões heurísticas em torno do uso das imagens nas ciências sociais. Samain, Etienne. Publicado no livro: Pedagogia da imagem. Imagem na Pedagogia. Niterói, RJ: UFF-Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Educação, Departamento de Fundamentos Pedagógicos, 1996, p. 7-17. [PDF]
Quais as diferenças e quais as complementaridades que existem entre a imagem e a escrita? Esta é uma das principais questões tratadas nesse artigo, o qual também recupera brevemente as reflexões mais amplas que acompanham a trajetória de seu pensamento nos anos anteriores. Desta vez, Etienne Samain, na companhia de Jean-Marie Schaeffer, Ernst Gombrich e Jonathan Crary, nos convida a questionar seriamente nossa condição de cientistas sociais e observadores num mundo em transformação. N.A.: Esse artigo foi republicado inteiramente e sob o mesmo título no livro Desafios da Imagem: iconografia, fotografia e vídeo nas ciências sociais. (org. Bela Feldman-Bianco e Miriam L. Moreira Leite). Campinas: Papirus, 1998, p. 51-62.
– No fundo dos olhos: os futuros visuais da antropologia. Samain, Etienne. Publicado em: Cadernos de antropologia e imagem, Rio de Janeiro, UERJ, nº 6, p. 141-158, 1998. [PDF]
Como a antropologia tem se servido das imagens e como, no futuro, poderá avançar nesse sentido? Esse artigo expressa a continuidade do tipo de pesquisa realizada sobre Bronislaw Malinowski e suas fotografias. A constatação recorrente de que, já no século XIX, a antropologia fazia uso de imagens em seus projetos, não nos deixa dúvidas da importância de se fazer uma história da antropologia visual no século XX. As obras de Gregory Bateson e Margaret Mead, de um lado, e de Albert Piette, de outro, são tomadas nesse sentido para revelar uma sofisticação incomum em termos das potencialidades do uso de imagens no campo da antropologia.
– Um retorno à ‘câmara clara’: Roland Barthes e a antropologia visual. Samain, Etienne. Publicado no livro: Samain, Etienne (org.) O Fotográfico. São Paulo: Editora Hucitec-CNPq, 1ª ed., 1998, (2ªed., 2005), p. 121-134. [PDF]
Será que Barthes foi, também, um antropólogo? A releitura de seu último livro La Chambre Claire oferece indícios importantes. Não apenas porque nos lembra que o imaginário é parte constitutiva do ser social, mas também porque, ao distinguir o studium fotográfico de seu punctum, Barthes nos convida a um outro olhar: esse olhar que ele sente e que sabe ter perdido. Um olhar que ele procura. Um outro prazer e um novo desejo acenavam no horizonte de sua busca do tempo, de sua sexualidade, de sua vida, de seu trabalho: o prazer do imaginário. O artigo retoma o texto publicado sob o mesmo título, no livro: O olhar Estético na Comunicação, Antônio Albino Canelas Rubim, Ione Maria Ghislene Bentz e Milton José Pinto (orgs.) Petrópolis: Editora Vozes, 2001, p. 37-50.
– Modalidades do olhar fotográfico. Samain Etienne. Publicado no livro: Ensaios sobre o Fotográfico, Luiz Eduardo Robinson Achutti (org.) Porto Alegre: Unidade Editorial, 1998, p. 109-114. [PDF]
As reflexões propostas poderão, talvez, ajudar a entrever e circunscrever problemáticas levantadas por este singular suporte imagético que é a fotografia, quando se oferece ao nosso olhar humano. Tratar-se-á, de certo modo, ousar confiar ao leitor – ao amante da fotografia ou ao antropólogo que pensa poder tirar proveito dela – o que já, provavelmente, vivenciou sem se dar conta das implicações contidas nessas vivências. Serão impressões mais do que certezas, que gravitarão em torno de um duplo foco crítico. O primeiro foco levanta o problema dos modos de apresentação da fotografia e das “leituras” que podem inspirar para quem a contempla. O segundo encara a fotografia, imagem fixa, na sua dimensão cognitiva e ao relacioná-la com a imagem em movimento, o cinema, pergunta-se se uma como a outra, não vão definindo posturas existenciais (e até filosóficas) com relação à apreensão, à representação e a uma maneira de tratar, de pensar e de dizer o mundo.
– Os riscos do texto e da imagem. Em torno de Balinese Character (1942) de Gregory Bateson e Margaret Mead. Samain Etienne. Publicado em: Significação. Revista de Cultura Audiovisual, São Paulo, ECA/USP, vol.14, p. 63-88, 2000. [PDF]
Balinese Character. A Photografic Analysis (1942) de Gregory Bateson e Margaret Mead é, sem sombra de dúvida, um livro fundador da Antropologia visual (fotográfica). Muitas vezes citado, permanece insuficientemente explorado. Esse artigo levanta – após uma breve apresentação da organização geral da obra – um questionamento heurístico e uma reflexão sobre a natureza da utilização integrativa da imagem e do texto na elaboração do discurso antropológico. Para tanto, propõe três modelos de organização das pranchas fotográficas de Balinese Character e seus respectivos comentários escritos, efetuando percursos inversos: da imagem ao texto e do texto à imagem. Se é verdade que ambos esses suportes comunicacionais são singulares tanto como complementares, suas respectivas riquezas heurísticas não ficam livres de outros riscos que a pesquisa em pauta procurará desvendar.
– L´homme nu”, 500 années d´un anniversaire. Chroniques brésiliennes d´un été et d´un automne. Samain, Etienne. Publicado em: Revue Hermès. Cognition, Communication, Politique, Paris, C.N.R.S., n. 28, p 129-141, 2000. [PDF]
Uma crónica pessoal da comemoração, no mês de março de 2000, dos 500 anos da chegada de Pedro Cabral nas costas brasileiras. Uma chegada que não correspondia a uma “descoberta”, mas que inaugurava um “encontro” entre culturas (portuguesa e indígena). Reunindo diversos fatos ocorridos e publicados na imprensa (as declarações de políticos brasileiros e europeus, a criação de um nova nota de moeda, as declarações do episcopado, as manifestações do Movimento dos Sem Terra), o autor pensa poder destacar um traço desconhecido na Europa e, no entanto, essencial da sociedade brasileira: sua relação singular para com a memória e sua história, o que conduz o autor a definir a terra brasileira como sendo “a terra da dinâmica do provisório”.
– Mito e Historia oral. Samain, Etienne. Publicado em: Revista Resgate, Campinas, CMU-Centro de Memória da Unicamp, vol. 9, p. 11-18, 2000. [PDF]
Assumindo o fato de que o mito é uma modalidade da História oral, procura-se, nesse ensaio, responder a três interrogações: 1) Como os próprios índios (no caso Kamayurá e Urubus-Kaapor, Brasil), definem o que rotulamos de “mitos” ou de “estórias”? 2) Quais seriam algumas das funções desses mitos no contexto de sociedades ágrafas que, deles, se nutrem e vivem? 3)Como pensar, minimamente, as questões da elaboração, transmissão e decodificação dos mitos, tendo em vista o fato de que os mitos não são textos e, sim, falas e narrativas, obedecendo a operações lógicas e potencialidades cognitivas singulares?
– Entre a escrita e a imagem. Diálogos com Roberto Cardoso de Oliveira. Samain, Etienne e Mendonça, João Martinho de. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, vol.43, no.1, p.185-236, 2000. [PDF]
Qual seria o lugar reservado às imagens na antropologia feita no Brasil? Nesse encontro com o antropólogo brasileiro Roberto Cardoso de Oliveira em 1998, Etienne Samain questiona a proeminência conferida por Cardoso à escrita, tal como aparecia no artigo “O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever” (1996). A generosa entrevista descortina capítulos importantes da antropologia brasileira. Demonstra a consideração do antropólogo brasileiro em face das questões postas sobre a visualidade na antropologia e sobre as suas fotografias dos Tikuna, arquivadas, as quais na época foram tema da pesquisa de Mestrado de João Martinho de Mendonça. Pistas importantes para uma antropologia visual fotográfica no Brasil ficaram, assim, esboçadas.