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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES INSCRITAS

por PPGF publicado 02/12/2018 20h36, última modificação 29/04/2020 09h51
Resumos das Comunicações apresentadas no I Colóquio Nacional de Filosofia Pŕatica, na Universidade Federal da Paraíba, 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMAS DE POS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

MESTRADO E DOUTORADO

 

 

I COLOQUIO NACIONAL DE FILOSOFIA PRATICA

João Pessoa, de 03 a 05/12/2018

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

Adelino Pereira da Silva, EMANCIPAÇÃO DO PENSAMENTO E EXPERIÊNCIA DOS MASS MEDIA NA SOCIEDADE TRANSPARENTE DE GIANNI VATTIMO

Adenilton Moises da Silva, DEUS PARA ALÉM DA RELIGIÃO EM KIERKEGAARD

Alan Dionizio Carneiro, A SOBERANIA DO VALOR EM MAX SCHELER FRENTE A DITADURA DO DEVER: COMPREENSÃO DE MODELOS E LÍDERES NA DEMOCRACIA

Alberto Vivar Flores, SUBJETIVIDADE E CRÍTICA AO SUJEITO MODERNO DESDE AMÉRICA LATINA

Ana Monique Moura, O ELOGIO DA VONTADE COMO MANIFESTO DA RAZÃO PRÁTICA: OU O “DESLOCAMENTO DO SENSÍVEL” NA FILOSOFIA DE KANT

Ana Paula Marcelino da Silva, BUTLER E O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA ÉTICA NA QUESTÃO DO RECONHECIMENTO

Anderson D’Arc Ferreira, O PENSAMENTO POLÍTICO EM GUILHERME DE OCKHAM

Angélica Batista Barbosa, A CONSTRUÇÃO DE UMA ÉTICA BEAUVORIANA: PARTINDO DO ROMANCE O SANGUE DOS OUTROS

Antonio Rufino Vieira, MARX, 200 ANOS: SOCIALISMO E UTOPIA CONCRETA

Arivaldo Sezyshta, ESTADO DE EXCEÇÃO E PRECARIEDADE DA VIDA: UMA APROXIMAÇÃO ENTRE AGAMBEN, HANS JONNAS E ENRIQUE DUSSEL

Betto Leite da Silva, TÉCNICA, CIÊNCIA E INFORMAÇÃO: A MORTE DA UTOPIA

Bruno Alexandre Cadete da Silva, MAQUIAVEL E A PLENITUDO POTESTATIS: RELIGIÃO COMO RAZÃO DE ESTADO.

Cauim Ferreira das Neves Santos, RORTY EM AUSCHWITZ

Corrina Oliveira Arruda, A LINGUAGEM DO ROSTO NO PENSAMENTO DE EMMANUEL LEVINAS

Cristiano Bonneau, O FILÓSOFO NA TERCEIRA MARGEM DO RIO

Dã Alves Bronzeado, O DIÁLOGO E O MÉTODO DIALÉTICO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA

Damiana Bezerra Alves, A SUPREMACIA DOS AFETOS EM SPINOSA: A PARTIR DO LIVRO INTITULADO ÉTICA: DEMONSTRADA SEGUNDO A ORDEM GEOMÉTRICA, E DIVIDIDA EM PARTES, NAS QUAIS SÃO TRATADOS

Diego Guimarães, A OBRA DE AGAMBEN A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA ANÁRQUICA

Edson de Oliveira Silva, BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E POLÍTICA NA REPÚBLICA DE PLATÃO

Edson Gonçalves da Silva, AS POSSÍVEIS EVIDÊNCIAS EM TOMÁS DE AQUINO DA CONTINUIDADE DO CONHECIMENTO DA ALMA APÓS A DESTRUIÇÃO DO CORPO

Edval da Costa Araújo, A ALIENAÇÃO SOB A ÉGIDE DA MORAL MARXIANA

Érika Pinheiro Araújo, ESQUECIMENTO & RUÍNAS: A PERSPECTIVA DA MEMÓRIA HISTÓRICA DE WALTER BENJAMIN NO ROMANCE O VENDEDOR DE PASSADOS

Ernane Gomes da Silva Júnior, A RELAÇÃO ENTRE AUTONOMIA PÚBLICA E PRIVADA NA FORMAÇÃO DO ESTADO DEMOCRATICO DE DIREITO SOB A PERSPECTIVA DE JÜRGEN HABERMAS

Euza Raquel de Sousa, HISTÓRIA E POLÍTICA: DIÁLOGOS ENTRE MAQUIAVEL E GUICCIARDINI

Fábio José Barbosa Correia, A POSSIBILIDADE DE UM ACORDO ENTRE OS POVOS EM TORNO DE UM ETHOS MUNDIAL, NA PERSPECTIVA DE LEONARDO BOFF

Fernandes Antonio Brasileiro Rodrigues, ÉTICA E ALTERIDADE DESDE UMA RUPTURA DA TOTALIDADE EM DUSSEL

Francisca Palloma Soares Paulino, O VOCABULÁRIO DA GUERRA E O TERROR EM ARMAS DO FUTURO, DE WALTER BENJAMIN

Gedeon José de Oliveira, A ONTOLOGIA DE MARTIN HEIDEGGER COMO HERMENÊUTICA ÉTICA.

Giuseppe Tosi, A CRISE DO LIBERALISMO POLÍTICO NA ÉPOCA DO LIBERALISMO ECONÔMICO E DO POPULISMO.

Ilíada Santos Botelho, A COMUNIDADE DE PESSOAS PLATONICAMENTE BOAS: UTOPIA OU POSSIBILIDADE REAL?

Jaldes Reis de Meneses, ENTRE GRAMSCI E POLANYI: A REVOLUÇÃO RUSSA E REVOLUÇÔES PASSIVAS

Jonhn Leno Mariano de Lima, SUBJETIVIDADE E CRÍTICA AO SUJEITO MODERNO EM PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA

José Carlos Valério, A RELAÇÃO ORIGINÁRIA ENTRE POESIA E FILOSOFIA

José Leonardo Alexandre Lacerda, O DIVÓRCIO ENTRE O HOMEM E O MUNDO: UMA ANÁLISE DO ABSURDO EM ALBERT CAMUS

José Ronaldo de Oliveira Marques, FUNDAMENTALISMO E RELIGIÃO NO ESPAÇO PÚBLICO – UMA ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO POLÍTICO A PARTIR DO PENSAMENTO DE JÜRGEN HABERMAS

José Tadeu Batista de Souza, A CATEGORIA DA RESPONSABILIDADE COMO FILOSOFIA PRÁTICA EM LEVINAS

Judite Eugênia Barbosa Costa, O ESTADO ‘LEVIATÃ’ COMO A ARTE DA REPRESENTAÇÃO: uma análise estético-poética do pensamento político de Thomas Hobbes

Kíssia Wendy Silva de Sousa, FUNDAMENTOS ONTOLÓGICOS DO TRABALHO E DO SER SOCIAL

Luana Alves de Oliveira, O MUNDO TÉCNICO E O FORTALECIMENTO DO IMPESSOAL: DA EDUCAÇÃO TÉCNICA A IMPORTÂNCIA DO INÚTIL

Luciana Azevedo Rodrigues, IMAGENS TÉCNICAS E IMAGENS MENTAIS: CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO FILOSÓFICO DE C. TÜRCKE PARA UMA LEITURA DE “TERRA EM TRANSE” NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Manoel Uchôa, A DEMOCRACIA POR-VIR EM JACQUES DERRIDA: UMA PRÁTICA AUTOIMUNITÁRIA EM TEMPOS DE TERROR

Marcela Cássia Sousa de Melo Benício Figueiredo, A METODOLOGIA DOS ESTUDOS VIQUIANOS: POR UMA FILOSOFIA PRÁTICA

Márcio José Silva Lima, O TOTALITARISMO DE HANNAH ARENDT NA OBRA 1984 DE GEORGE ORWEL

Márcio Norberto Farias, VÍCIO PELAS TELAS DIGITAIS: CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO DE CHRISTOPH TÜRCKE PARA A EDUCAÇÃO CORPORAL.

Marcos Roberto Nunes Costa, A SÍNTESE DO TEOCRACISMO PAPAL EM EGÍDIO ROMANO

Marconi Pimentel Pequeno, VIOLÊNCIA E REVOLUÇÃO

Maria Aparecida Vieira de Melo, MICHEL FOUCAULT: A PRÁTICA DA PESQUISA ARQUEOLÓGICA

Maria do Carmo Batista da Silva, LINGUAGEM COMO FORMA DE ALCANCE DOS OBJETIVOS PEDAGÓGICOS

Marta Maria Aragão Maciel, O ROMANTISMO REVOLUCIONÁRIO DE ERNST BLOCH: A PROPÓSITO DA RELAÇÃO ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA

Narbal M. Fontes, O CARÁTER RETÓRICO DAS TEORIAS MORAIS

Natália T. Rodrigues, A IMPORTÂNCIA DA CATEGORIA MARXIANA DE ESTRANHAMENTO PARA A CRÍTICA SOCIAL FEMINISTA

Pedro Claudemir da Cruz Costa, Adelino Pereira da Silva, UMA PERSPECTIVA RAWLSIANA DOS ACONTECIMENTOS INDÍGENAS NO BRASIL

Pedro Henrique Ciucci da Silva, GRAMSCI E A REVOLUÇÃO PERMANENTE

Rafaella Silveira Sucupira da Costa, O PAPEL DA RAZÃO PRÁTICA NA FILOSOFIA MORAL DE IMMANUEL KANT

Ricardo Evangelista Brandão, O AMOR COMO JUSTIÇA SOCIAL EM AGOSTINHO DE HIPONA: BREVE ANÁLISE AO COMENTÁRIO À PRIMEIRA EPÍSTOLA DE SÃO JOÃO

Rodrigo José de Lima, O ESTATUTO EPISTÊMICO DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA NO SISTEMA DAS CIÊNCIAS ESPECULATIVAS SEGUNDO TOMÁS

Rychard K. de A. Cintra, IDEIA DO INFINITO ENQUANTO EXPERIÊNCIA MORAL NO ‘TOTALIDADE E INFINITO’ DE EMMANUEL LEVINAS

Saulo Bandeira de Oliveira Marques, O RÉTOR COMO DEINÓS: UM CONTRAPONTO À LEITURA MORALISTA DE EUGENE RYAN DA ARTE RETÓRICA DE ARISTÓTELES

Sérgio Freitas de Lima, O CONCEITO DE ABSTRAÇÃO A PARTIR DA SUMA TEOLÓGICA DE TOMÁS DE AQUINO

Suzana Albornoz, A UTOPIA CONCRETA DO HOMEM CORDIAL

Tarciano Silva Batista, NACIONALIZAR A VIDA E POLITIZAR A MORTE: A BIOPOLÍTICA EM AGAMBEN

Tayane Cristine Ferreira Clemente da Silva, O FASCISMO E AS MASSAS: UMA ANÁLISE DA TEORIA FREUDIANA SOBRE O CONTÁGIO DO ÓDIO

Thiago Lira Alves Agostinho, O CONCEITO DE CATARSE: NOTAS PARA UMA APROXIMAÇÃO DA FILOSOFIA DE A. GRAMSCI COM A TEORIA PSICANALÍTICA

Valkíria Oliveira de Melo, MARGUERITE PORETE E MESTRE ECKHART: ENTRE MISTICISMO E ÉTICA?

Viviane Magalhães Pereira, UM ESBOÇO DA ÉTICA HERMENÊUTICA DO DIÁLOGO

Wécio Pinheiro Araújo, OS SENTIDOS DO BOLSONARISMO: CRÍTICA DA IDEOLOGIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

 

RESUMOS

 

 

Adelino Pereira da Silva

Doutorando em Filosofia pelo PIPGF/UFPB

ade.lino@yahoo.com.br

 

EMANCIPAÇÃO DO PENSAMENTO E EXPERIÊNCIA DOS MASS MEDIA NA SOCIEDADE TRANSPARENTE DE GIANNI VATTIMO

 

O presente estudo trata-se de uma discussão com vistas à investigação em torno da maneira como Gianni Vattimo tece uma reflexão filosófica sobre a “pós-modernidade”. Vattimo afirma que o pós-moderno será melhor teorizado e discutido, com rigor filosófico, a partir de Nietzsche e Heidegger, uma vez que eles já haviam evidenciado as novas condições da existência no mundo industrial tardio, o que, por assim dizer, os caracterizam de maneira definitiva como irredutíveis à pura e simples Kulturkritik (crítica da cultura ou crítica cultural), que percorre toda a filosofia e a cultura do início do século XX. A partir da herança nietzschiano-heideggeriana, Vattimo reconhece a “experiência” do niilismo como uma alternativa válida à sua interpretação da existência na pós-modernidade. Portanto, a sua reflexão considera que a crise da Metafísica implica em uma (re)leitura sobre alguns dos problemas de fronteiras que se mostram no ethos pós-moderno. Nessa esteira, a hipótese que ilumina o nosso trabalho aponta para uma emancipação do pensamento a partir da experiência dos mass media que, por sua vez, possibilita problematizar uma sociedade transparente, apontando aspectos da conceituação filosófica vattimiana de pós-modernidade a partir do aparecimento da sua discussão em torno da cultura dos dialetos e das novas experiências com os meios de comunicação de massa (os mass media).

 

Palavras-chave: Emancipação do pensamento. Mass media. Sociedade transparente.

 

 

Adenilton Moises da Silva

Mestrando em Ciências da Religião pela UNICAP

adenilton.silva80@gmail.com

 

DEUS PARA ALÉM DA RELIGIÃO EM KIERKEGAARD

Este trabalho tem por objetivo, a partir de algumas obras de Kierkegaard, investigar a questão de Deus na construção do seu pensamento. A partir desse objeto de estudo, analisar a noção de Deus como paradoxo que, segundo essse filósofo pode ser compreendido pelo véis da fé. Não sendo os conceitos que definem quem é Deus, mas é na relação do sujeito por meio da fé que se pode relacionar-se diretamente com o Eterno. Mas essa relação tende a se efetuar nas contradições manifestadas no ato da construção da existência. Portanto, apresentamos um porjeto de pesquisa que, investigando algumas ideias kierkegaardiana, pretende também averiguar como o cristão hoje entende sua condição de ser e de crer em Deus na contemporaniedade, ao mesmo tempo, compreender o cristianismo como um encantameto, uma paixão existencial, desprovido do dogmatismo religioso.

Palavras-chave: Deus. Paradoxo. Cristianismo. Indivíduo.

 

Alan Dionizio Carneiro

Dutorando em Filosofia pelo PPGFI/UFPB/UFPE/UFRN

Professor do Curso de Graduação em Enfermagem da UFCG

dionizioccs@hotmail.com

 

A SOBERANIA DO VALOR EM MAX SCHELER FRENTE A DITADURA DO DEVER: COMPREENSÃO DE MODELOS E LÍDERES NA DEMOCRACIA

Valor e Dever direcionam o agir humano diante de suas mais tênues motivações, sentimentos, desejos, vontade (querer) e decisões seja ora impulsionando-o, ora arrefecendo-o, permitindo-se influenciar pelo outro e pela cultura. Este estudo se propõe a analisar a crítica scheleriana sobre a noção de dever e as implicações das relações entre valor e dever na compreensão de modelos e líderes. Para Scheler, o dever não pode ser fonte ou substituto do valor e da consciência moral da pessoa, pois isso eximiria a responsabilidade da pessoa (pelo mundo) por seus feitos e extinguiria toda e qualquer pretensão de autonomia da pessoa; no aspecto deontológico, qualquer possibilidade punitiva; e, no aspecto de um humanismo social instauraria a apatia moral, nos quais o orgulho, a humildade, a culpa, o remorso e o arrependimento, o amor e o ódio seriam desprovidos de conteúdos morais. Na ordem prática, o dever coloca-se para a pessoa (sujeito) como uma resistência, isto é, como um não poder-fazer de outro modo diante da realidade posta (resistência). A ditadura do dever consiste nesse “determinismo” do dever sob a vontade, não porque nos proíbe, mas porque nos manda. No âmbito político, o líder é a pessoa capaz de convencer, coordenar as ações dos indivíduos por sua autoridade e, inclusive, pode induzir, por meio do dever, as pessoas a realizarem ações contrárias aos próprios valores tolhendo sua liberdade. As inclinações axiológicas de um líder podem esconder-se sob a égide de uma ditadura do dever prescindindo da criticidade dos liderados. Scheler, todavia, enfatiza a soberania dos valores pelos quais a pessoa guia sua vida em busca da excelência moral (o modelo pessoal) no caminho da cultura. Como o líder possui e representa valores de uma coletividade, é com base no modelo e nos valores que expressa o líder que a sociedade analisa discursos, prefere e julga seus governantes. Numa democracia em que há desigualdades sociais e econômicas, diversidade de ideias, de opiniões e de pessoas, a renovação e progresso morais (marcados pela universalidade e unidade) na cultura apenas são possíveis sob um pacifismo de princípios, ou seja, mediante o diálogo constante e a eterna vigilância dos valores democráticos no discernimento dos modelos e líderes de cada época. A democracia e a “paz perpétua” dependem ante tudo do reconhecimento da soberania dos valores e numa política de reconciliação das pessoas que as aproximem, nas palavras de Scheler, da imagem do “Homem Total”.

 

 

Alberto Vivar Flores

Doutor em História pela UFRS.

Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas

E-mail: alberto_vivarflores@hotmail.com

 

SUBJETIVIDADE E CRÍTICA AO SUJEITO MODERNO DESDE AMÉRICA LATINA

O problema da subjetividade na América Latina deita raízes desde o momento em que o Continente Americano é descoberto, invadido, conquistado e colonizado pela Europa da Época Moderna (1453-1789). A destruição material e cultural a que foram submetidos os Povos Originários das Índias Ocidentais registrada por, entre outros, Bartolomé de las Casas, nos permite constatar a afirmação violenta da subjetividade do sujeito da modernidade europeia e, consequentemente, a negação da subjetividade original dos filósofos desnudos americanos. De tal forma foi assim, que o filósofo Enrique Domingo Dussel Ambrosini (1934) afirma o fato de que o famoso Ego cogito de René Descartes (1596-1650), na realidade, se sustenta no contexto da atitude do Ego conquiro próprio dos outrora conquistadores genocidas do Continente Americano. O processo colonizador de longa duração que começa o 12 de outubro de 1492 −22 de abril do 1500, no caso do Brasil−, filosoficamente falando, desencadeará o fenômeno registrado por G. W. F. Hegel (1770-1831) com as seguintes palavras: “Lo que hasta ahora acontece allí no es más que el eco del Viejo Mundo y el reflejo de ajena vida”. Fenômeno que, por sua vez, os historiadores latino-americanos da filosofia o reconheceram –como o fez Sylvio Romero (1851-1914)− dizendo: “Na história do desenvolvimento espiritual no Brasil há uma lacuna a considerar: a falta de seriação nas idéias, a ausência de uma genética. Por outros termos: entre nós um autor não procede de outro; um sistema não é uma consequência de algum que o precedeu. [...] A leitura de um escritor estrangeiro, a predileção por um livro de fora vem decidir da natureza das opiniões de um autor entre nós. As idéias dos filósofos, que vou estudando, não descendem umas das dos outros pela força lógica dos acontecimentos. [...] É que a fonte onde nutriam suas idéias é extranacional”. Tal fenômeno filosófico produzido pelo imperialismo do logos europeu na história da América Latina nos leva, em primeiro lugar, a desenvolver uma crítica radical do sujeito da modernidade europeia; em segundo lugar, à denuncia incondicional e irrestrita de uma subjetividade alienada latino-americana desde os tempos da colonização (1492-1800) até os dias atuais; e, em terceiro lugar, a procurar a imediata superação de semelhante alienação através do resgate arqueológico da subjetividade original, mas oprimida, dessa América mestiça, utópica e rebelde.

Palavras-chaves: Filosofia; Latino-américa; Subjetividade; Modernidade; Sujeito.

 

Ana Monique Moura

Doutora em Filosofia pelo PIPGF/UFPB/UFPE/UFRN

anamoniquemoura@gmail.com

 

O ELOGIO DA VONTADE COMO MANIFESTO DA RAZÃO PRÁTICA: OU O “DESLOCAMENTO DO SENSÍVEL” NA FILOSOFIA DE KANT

Este trabalho procura destacar a relevância fornecida ao campo do sensível por parte de Kant a partir da relação que ele sugere entre a sensibilidade e a racionalidade sem sacrifício de nenhuma de tais faculdades. Com isso, analisamos o lugar de um possível “elogio da vontade” no pensamento de Kant. Mas, colocamos em cheque até que ponto o sensível é elogiado pelo pensamento kantiano e para quê este elogio servirá no seu projeto de uma ideia de razão prática humana. Queremos explicar o modo como, para Kant, a vontade exerce um papel fundante do sentido de exercício da razão moral e como ela também expressa o deslocamento do sensível de seu campo, dito, inferior, para o sentido de uma vontade que funda a ideia de uma razão prática, destacando um outro papel para a sensibilidade. Isso provoca uma cisão entre um campo sensível irracional e outro racional, mas não elimina o tema do sensível, e neste caso especial, da vontade. Assim, discutiremos se a razão prática ganha sua legitimação pelo o que ela representa de não sensível, ou seja, pelo o que ela supera no campo do sensível para ser plenamente racional, ou pelo o que ela exerce enquanto assentada num sentido de vontade superior sobre uma sensibilidade inferior, sendo, antes de uma razão prática, uma vontade prática.

Palavras-Chave: Razão Prática; Vontade; Sensível; Racional; Irracional.

 

Ana Paula Marcelino da Silva

Estudante de graduação pela UFPB

anapaula_marcelino@yahoo.com.br

 

BUTLER E O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA ÉTICA NA QUESTÃO DO RECONHECIMENTO

 

A expressão “luta por reconhecimento” consagrada por Axel Honneth em uma das obras de maior expressividade na tradição crítica da Escola de Frankfurt é o ponto de partida deste trabalho. Uma das discussões mais atuais acerca deste tema é a da filósofa estadunidense Judith Butler, em seu livro Relatar a si mesmo – Crítica da violência ética. A partir dos escritos de filósofos como Adorno e Nietzsche, Butler defende a tese de que há um comprometimento inicial com determinados “regimes de verdade”- expressão que ela toma de Foucault - que impedem o sujeito de fazer um relato de si emancipado. Nesse sentido, o espelho hegeliano do reconhecimento também não escapa a esse sistema. Partindo de um breve retorno ao estudo acerca das primeiras formas de associações humanas desde Aristóteles até as teses dos contratualistas Hobbes, Rousseau e Locke, adentraremos a análise das leituras do jovem Hegel – que é o cerne da obra de Honneth. Posteriormente, consideraremos a tese de Butler na obra citada acima e analisaremos de que forma a construção de um discurso em defesa do reconhecimento traz consequências aos indivíduos e à forma de organização da sociedade. Na psicanálise, por exemplo, Butler acredita que é exercida uma violência contra o sujeito diante dos vários problemas no processo de transferência. O “eu” faz sua narrativa a partir de diversos construtos – como a linguagem - que antecedem a própria figura do “eu conhecedor de si mesmo” que deve aparecer durante a análise, apesar de existir uma convergência entre os dois conforme acredita a filósofa. Portanto, Butler coloca em xeque a questão do reconhecimento como forma ética - no sentido positivo que carrega o termo - de uma filosofia prática num cenário social em que grupos historicamente marginalizados pleiteiam o direito de serem reconhecidos. Será que o reconhecimento baseado em uma normatividade pré-determinada é de fato uma forma de reivindicação favorável do ponto de vista ético?

 

 

Anderson D’Arc Ferreira

Doutor em Filosofia pelo PIPGF UFPB/UFPE/UFRN.

Professor efetivo do Dep. de Filosofia da UFPB.

anderson@cchla.ufpb.br

 

O PENSAMENTO POLÍTICO EM GUILHERME DE OCKHAM

O presente estudo, ainda de cunho propedêutico, pretende estabelecer as linhas gerais do pensamento político de Guilherme de Ockham. Inserido no contexto do debate político entre papistas e anti-papistas do século XIV, nosso autor é precursor de algumas ideias que fortaleceram as defesas de Ludovico da Baviera frente às pretensões da plenitudo potestatis pretendida pelos teocratas. Nesse sentido, nosso autor defende a existência de dois poderes distintos, o espiritual e o secular, ambos com campos de atuação específicos e diferentes entre si. O Papa somente teria poder sobre as coisas espirituais, não sobre os reinos ou as coisas relativas à sociedade humana. O contexto dos debates em que ele está inserido não poderia deixar de conduzi-lo à defesa da autonomia do poder civil, oriundo do imperador, em relação ao poder espiritual, oriundo do Papa. Nesse estudo apontaremos apenas dois pontos basilares no pensamento político ockhamista, a saber, a defesa do direito de propriedade e a necessidade de um acordo, contrato, entre os homens para se estabelecer uma autoridade que possa gerir a vida em sociedade.

Palavras-chave: Ockham; Secularização; Contrato social.

 

Angélica Batista Barbosa

Mestranda em Filosofia pela UFPB

Bolsista pela CAPES

angelica.filosofia@gmail.com

 

A CONSTRUÇÃO DE UMA ÉTICA BEAUVORIANA: PARTINDO DO ROMANCE O SANGUE DOS OUTROS

 

Até os dias de hoje existe uma certa polêmica no mundo acadêmico sobre o fato de aceitar Simone de Beauvoir como filósofa. Grande parte dessa distorção histórica e cultural deve-se ao fato de que a grande maioria de suas publicações gravita entre romances e memórias, além de sua associação ao movimento feminista devido ao alcance do ensaio O segundo sexo, o qual contém temas precursores da segunda onda do referido movimento. Todavia, este não foi o único ensaio filosófico por ela escrito, embora não tenham obtido a mesma proporção e sucesso. O existencialismo e a sabedoria das nações, Pirro e Cinéias, Por uma moral da ambiguidade por exemplo, caracterizam esse aspecto mais filosófico de sua obra, porém não serão aqui tratados, apenas mencionados por trazerem temas relevantes para o objeto da pesquisa. O objetivo do presente artigo é demonstrar que mesmo em seus romances é marcante a presença de aspectos filosóficos e ainda ouso afirmar, que esses textos mostram a construção daquilo que denomino ética beauvoriana, o que pode causar um certo estranhamento, visto que, o existencialismo não postula regras de conduta como o fazem as morais tradicionais. Tomarei como base o romance O sangue dos outros originalmente publicado em 1945, neste a autora aponta questionamentos presentes no campo das ações humanas, como por exemplo acerca do sentido da vida, do papel que ocupamos no mundo e do impacto que nossas ações geram em outrem.

Palavras-chave: Ética. Existencialismo. Ações humanas.

 

Antonio Rufino Vieira

Doutor em Filosofia pela UFRJ

Professor Titular do Dept. Filosofia da UFPB

arufino.vieira@gmail.com

 

MARX, 200 ANOS: SOCIALISMO E UTOPIA CONCRETA

Neste trabalho pretendemos, inserindo-nos no âmbito das comemorações do bicentenário de nascimento de Marx, reler o marxismo que tem muito a nos ensinar na compreensão e transformação da sociedade brasileira, pois entendemos que a teoria marxista apresenta quatro aspectos essenciais, a saber: ela é uma teoria da realidade, uma crítica do existente, um projeto de emancipação e um imperativo político de transformar o mundo. Entendemos que refletir sobre a filosofia marxiana é refletir sobre a própria possibilidade de o homem assumir-se enquanto construtor de um futuro onde, não existindo as desigualdades sociais (notadamente a econômica – o socialismo), reinará a liberdade em sua completitude (a realização da utopia concreta). Tema este que pode ser sintetizado por uma famosa passagem do Manifesto do Partido Comunista: no lugar da antiga sociedade burguesa, se erguerá uma nova sociedade (socialista) onde o livre desenvolvimento de cada um é o livre desenvolvimento de todos.

Palavras-chave: Marxismo, socialismo, utopia.

 

Arivaldo Sezyshta

Doutor em Filosofia pelo PIPGF/UFPB/UFPE/UFRN

aryasa@bol.com.br

 

ESTADO DE EXCEÇÃO E PRECARIEDADE DA VIDA: UMA APROXIMAÇÃO ENTRE AGAMBEN, HANS JONNAS E ENRIQUE DUSSEL

 

A contemporaneidade tem produzido diferentes abordagens teóricas que tentam dar conta da ética em um contexto de estado de exceção e precariedade da vida. Agamben, em obras como “O que resta de Auschuwitz” e “Homo sacer: o uso dos corpos”, trata, precisamente, do homo sacer enquanto conceito que representa a vida indigna de ser vivida, o limiar além do qual a vida cessa de ser politicamente relevante para o Estado e então pode ser eliminada. Hans Jonnas, em “O princípio responsabilidade”, trata do estado de exceção e da precariedade da vida enquanto distopia, evocando dois grandes valores de nossa tradição: a humildade e o domínio de si, propondo-nos uma nova ética, baseada na cura da perda de domínio de si e do delírio de onipotência, tendo o equilíbrio ecológico como um imperativo categórico dessa nova ética. Nessa mesma perspectiva, por dentro da Filosofia da Libertação, Enrique Dussel tem insistido, sobretudo em obras como “Ética da Libertação na idade da globalização e da exclusão” e “16 Teses de Economia Política”, em uma ética ecológica, afirmando que, para uma libertação efetiva, é necessário o reconhecimento da natureza enquanto sujeito de direitos e os recursos naturais como finitos, o que impõe ao ser humano a busca por uma vida em maior harmonia com o meio ambiente. O enfrentamento aos sistemas opressores, que seguem gerando estados de exceção e precarizando a vida, por seguir gerando novas vítimas, se dá pelo esforço coletivo de prática da verdade e de defesa da vida, nas identidades compartilhadas, na tolerância multiétnica enquanto contribuição latino-americana para a história mundial. Essa já é uma trans-modernidade, uma novidade diante do mundo, já em gestação, anúncio da possibilidade real de um desenvolvimento qualitativo, capaz de efetivamente priorizar a vida diante do lucro, afinal, um bilhão de pessoas ainda passa fome no planeta, em pleno século XXI, o que cobra da filosofia seguir apontando a superação desse problema ético, indicando alternativas, no horizonte do debate.

Palavras-chave: ética, responsabilidade, libertação.

 

Betto Leite da Silva

Prof. Associado da Universidade Federal da Paraíba. UFPB.

 

TÉCNICA, CIÊNCIA E INFORMAÇÃO: A MORTE DA UTOPIA

A utopia caracteriza o modo de relação social dos sujeitos com o tempo. O tempo precisa ser representado e vivido conforme a noção de espaço que os sujeitos dispõem para ajuizar suas ações. Qualquer ação é executada com vistas a um fim específico, ou seja, para conseguir sucesso, e para isso, os sujeitos as referem a uma noção de espaço ligada a uma noção de tempo. Todas as ações se dirigem para seus fins com base nessa compreensão metafísica desses dois elementos. Se regredirmos essa leitura às categorias de Aristóteles, diríamos que todas as ações se executam com o fim de alcançar o bem, o que poderíamos entender, no nosso contexto de argumentos, como sendo o bem comum. Em Kant, todos devem agir tendo em vista alcançar o Bem, a normalidade que rege o mundo. De qualquer maneira, há, nessa espaço hermenêutico entre o desejo e a ação, algo que só metafisicamente compreendemos como sendo o guia da ação: e chamamos a isso “utopia”. Nos tempos hodiernos, com o uso massivo das tecnologias da informação (mass media), a noção de tempo de tempo e espaço são reduzidas ao campo virtualmente aceito da comunicação, e os conceitos são reduzidos a termos de sentido unívoco e de efeito imediato. Faz-se dizendo e diz-se fazendo. Nesse sentido, a virtualidade torna-se maior do que a espacialidade na qual acontece a ação. Nascemos e morremos numa imediatidade, num agora infinito. A utopia, como lugar de realização dos desejos, cede lugar um imediatismo no qual tudo se realiza virtualmente no mesmo instante. E nesse momento já não dispomos mais de uma esfera de criticidade das nossas ações e da nossa comunicação. Aquilo que foi dito torna-se permanente e único, e realiza o momento e a ação efetiva, culminando na morte da utopia como o não lugar da comunicação, o ainda-não mas o sempre-já presente, parafraseando Heidegger.

Palavras-chave: informação, mass media, utopia, virtualidade, comunicação

 

Bruno Alexandre Cadete da Silva

Mestre em Filosofia pela UFPB

Doutorando em Filosofia pela UERJ.

bruno_cadete@outlook.com

 

MAQUIAVEL E A PLENITUDO POTESTATIS: RELIGIÃO COMO RAZÃO DE ESTADO.

A presente pesquisa versa sobre como o uso da religião, na obra de Maquiavel, é categorizada como um instrumento político basilar para a formação e manutenção do Estado (Statu). No caso, esse mecanismo é imprescindível – dentre outras ramificações da política – para dar o suporte necessário que o príncipe precisa para governar de forma plena, dotado de plenitudo potestatis. Nesse sentido, a religião constrói elementos, principalmente retóricos, que conduzem a população a uma condição de obediência civil, transformando cidadãos em súditos educados em patriotismo. Quando relacionamos violência política e religião, vemos como essas esferas são complementares. No caso, em relação à manutenção do Estado, quando o uso da religião não for suficiente para manter os súditos em comunhão e, consequentemente, o status quo do príncipe, dispor de violência torna-se condição limite e vital, pois “os Estados não se conservam rezando o Pai Nosso”. O uso da violência na religião é caracterizada como uma nova categoria política através do uso do mecanismo do bode expiatório, principalmente no papel de crime fundador como efeito catártico (pharmakós) responsável por manter o Estado (mantenere lo statu). Desse modo, a religião garante, através do uso de sacrifícios “sacros”, uma espécie de justificativa plausível e ascende à uma condição prática superior aos demais instrumentos da política, tornando-se dessa maneira uma pietosa crudeltà. Dito isto, veremos, através da figura dos Profetas Armados, os personagens conceituais responsáveis por essa prática.

 

Cauim Ferreira das Neves Santos

Mestrando em Filosofia pela UFPB

cauimferreyra@gmail.com

 

RORTY EM AUSCHWITZ

 

Segundo Richard Rorty, depois da viragem linguística, hermenêutica e retórica, tornou-se irrelevante para a prática defender um ponto de vista universal e incondicional relacionado a uma política democrática. Não faz diferença na prática, distinguir entre o contextual e o universal, pois quaisquer que sejam as “práticas de justificação orientadas para alegações de verdade”, como quer Habermas, elas não transcendem convenções sociais particulares. O temor de filósofos ao mesmo tempo universalistas e pragmatistas é que esse “relativismo” possa igualar a democracia a políticas anti-democráticas. Eles acreditam que com a ausência de um espaço de incondicionalidade que transcenda lugares particulares, não possamos exorcizar o irracionalismo como uma prática anti-democrática. Tais filosofias universalistas, embora assumidamente pós-metafísicas, estão ainda comprometidas com a distinção entre aparência e realidade, na medida em que endossam a necessidade de um critério incondicional e universal para dissociar justificações aparentes de justificações supostamente reais, ou como quer Habermas, uma comunicação que seja não-distorcida e simétrica. Para Rorty, após as viradas linguísticas, a dissociação aparência-realidade tornou-se meramente discursiva, isto significaria dizer que não temos mais segurança do acesso àquilo que chamamos de realidade. Assim, o conhecimento não deve mais ser visto como uma forma de espelhar a natureza, como fazia a epistemologia, mas como uma “questão de conversação e práticas sociais”. Rorty se afasta de Habermas quando abandona toda pretensão de ver o desejo de verdade como universal, mas como o desejo universal de justificação, o que estaria mais próximo da sua redescrição do etnocentrismo. O etnocentrismo assumido por Rorty questiona se são possíveis práticas de justificação que não estejam sempre comprometidas com nossos valores locais circunscritos numa época. Deste modo, seria enganoso ver, por exemplo, a proibição da tortura como uma consequência constitutiva da nossa natureza racional, o que seria antes uma conquista recente do Iluminismo europeu. Isso significa que nossa educação, herdeira do Iluminismo europeu, poderia ser acusada de não ser mais herrschaftsfrei [livre de dominação] que a educação nazista, por exemplo. Contudo, podemos redescrever nossa educação como um tipo de Herrschaft [dominação] mais benevolente, porque promove uma maior tolerância às diferenças. Não podemos refutar visões de mundo, porque não temos mais um fundamento universal e invariável ao qual possamos nos amparar; podemos no máximo redescrever o mundo de tal modo que torne a descrição nazista como algo insustentável.

Palavras-chave: Universalismo. Democracia. Justificação. Educação. Nazismo

 

Corrina Oliveira Arruda

Bacharelanda pela Universidade Católica de Pernambuco

corrina.oliveira@gmail.com

 

A LINGUAGEM DO ROSTO NO PENSAMENTO DE EMMANUEL LEVINAS

Levinas coloca o problema da relação com o outro propondo um novo modo de pensar sem a redução de tudo o que é outro a interioridade do mesmo, possibilitando a manutenção das alteridades nas relações. Para que a relação aconteça é necessário abertura para o outro, para uma dimensão de sentido maior, para a transcendência que começa nas relações em uma experiência de frente-a-frente. A concepção de rosto aparece para além da positividade que se dispõe à descrição e a tematização teórica. É na relação com o outro que a subjetividade encontra a possibilidade de abrir-se à transcendência e fundar um sentido que transborda a racionalidade ontológica. A categoria de rosto questiona o domínio sobre o outro. O rosto se revela constantemente como expressão da alteridade. Uma epifania do rosto que manifesta o sentido do humano, a alteridade absoluta que "diz" sua significação ética, recordando as obrigações do "eu", é no rosto do Outro que se assenta o ideal da responsabilidade como causa da moralidade. O rosto se apresenta como nudez, sem forma ou conceituação, se revela na relação e expressa seu significado através da fala que traz um ensinamento novo ao Eu, sua palavra é de ordem e súplica, uma convocação do Eu a responsabilidade. Sua significação é um apelo à vida em um discurso que não se identifica em signos linguísticos, porém desperta à responsabilidade exclama “não me mate”. O rosto se apresenta como revelação profunda do humano que expressa sua dimensão de abertura do ser, sua via de acesso não será nunca gnosiológica, será sempre a da ética fundamental, da não-violência, da afirmação do Outro. Assim, Levinas desloca a possibilidade da relação de linguagem, que surge como algo muito mais fundamental que a mera troca de signos verbais ou a expressão de idéias e informações sobre o mundo, a linguagem nasce no comando não-verbal do rosto do Outro. A própria aproximação do Outro, pela força da presença já me obriga à resposta, o rosto do Outro por si só já fala antes que qualquer palavra seja pronunciada. A linguagem do rosto no relacionamento face a face sai do universo da representação e se torna expressão que lança nossos pensamentos ao risco. Seu sentido é permitir comunicação e aproximação com o outro homem, que se apresenta como rosto de onde vem a primeira palavra.

PALAVRAS‐CHAVE: Ética, Rosto, Linguagem

 

Cristiano Bonneau

Doutor em Filosofia pela USP

Professor Adjunto da UFPB

crbonneau1@gmail.com

 

O FILÓSOFO NA TERCEIRA MARGEM DO RIO

Este texto propõe uma reflexão sobre o papel da filosofia, sobretudo, do filósofo em tempos de crise. Perpassando livremente a história da filosofia, o filósofo se apresenta das mais variadas formas, em acordo com as necessidades e vicissitudes de seu contexto histórico. Desde a questão acerca da utilidade da filosofia, da relação entre o filósofo e a política, até a questão mesma sobre ‘o que é a filosofia’; todas essas questões são variações fundamentais da complexa identidade do filósofo e o papel que este desempenha no mundo. Explorar essas variações é discutir os limites e possibilidades da atividade filosófica e das infinitas posições tomadas pelos atores que propuseram, de uma forma ou outra, aprender o mundo através de suas categorias e conceitos disponíveis. Esse é um tema fundamental para a compreensão da atividade filosófica e seu alcance.

 

 

Dã Alves Bronzeado

Lincenciando em Filosofia na Universidade Federal da Paraíba

alvesbro@live.com

 

O DIÁLOGO E O MÉTODO DIALÉTICO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA

 

Ao analisarmos os diálogos platônicos e seu método é inevitável a percepção de características marcantes em seu modo de escrever e o método como analisa o discurso, a presente comunicação tem como objetivo identificar e esclarecer o viés pedagógico do diálogo e de sua função para o método dialético identificado nas obras de Platão e a clara influência do método socrático apresentado pelo autor. Procurando refletir quais as características do diálogo da maneira que é utilizado por ele, bem como as diretrizes que guiam o método dialético, defendendo o entendimento de que ambos estão intrinsecamente ligados por uma relação de interdependência. A partir disso aponta para a necessidade do questionamento acerca da aprendizagem e mostra caminhos para uma melhor compreensão do método encontrado nos textos platônicos. Nos direciona também, a compreensão do papel fundamental do questionamento crítico e de uma reflexão de viés filosófico acerca de argumentos e premissas para a constituição de uma forma de pensar autentica àqueles que participam do diálogo. Oferece também o vislumbre a uma possibilidade de atualização de tal metodologia uma vez que ainda até os dias atuais apresenta função determinante na interpretação dos mais variados textos filosóficos e sem dúvidas pode ser melhor aproveitado para incitar o estimulo a leitura, gerando consequentemente maior possibilidade de ensino e aprendizagem acerca da filosofia como um todo.

 

Palavras-chave: Diálogo, Método Dialético, Pedagogia, Aprendizagem.

 

Damiana Bezerra Alves

Doutoranda em Filosofia PIPGF/ UFPB/UFRN/UFPE

alves.damiana@hotmail.com

A SUPREMACIA DOS AFETOS EM SPINOSA: A PARTIR DO LIVRO INTITULADO ÉTICA: DEMONSTRADA SEGUNDO A ORDEM GEOMÉTRICA, E DIVIDIDA EM PARTES, NAS QUAIS SÃO TRATADOS

Este trabalho pretende elucidar o poder dos afetos no livro chamado Ética: Demonstrada segundo a ordem geométrica e dividida em partes nas quais são tratados, escrito pelo filósofo holandês Spinoza, a começar com a terceira parte da sua obra, especificamente no capítulo que se denomina: a origem e natureza dos afetos. Nesse sentido, o filósofo entende por afeto uma ação pela a qual sua potência de agir é aumentada ou diminuída, estimulada ou refreada. Spinoza nos leva a pensar que quando as nossas ações provém exclusivamente de ideias adequadas, elas nos movimentam para a alegria aumentando assim a nossa potência para a ação. No entanto, quando nossas ações provêm de ideias inadequadas somos carregados por paixões que diminuem a nossa potência de agir, nos transportando para algum lugar voltado exclusivamente para o viés da tristeza. Neste caso, lançamos esta questão: Como diminuir o afeto da tristeza e aumentar a potência da alegria? Já que para ele a alegria é um degrau na subida para uma perfeição maior. Compreendemos, de acordo com o filósofo em discussão que a mente pode sofrer grandes modificações, passando ora a uma perfeição maior, ora a uma perfeição menor, sendo esses sentimentos explicados pelo afeto da alegria e da tristeza, principalmente relacionados ao nível de encontros que costumamos ter, isso nos fará ampliar as nossas ações ou ao contrário reduzi-las.

Palavras-Chave: Afeto, Ética, Tristeza, Alegria.

 

Diego Guimarães

Doutorando no PIPGF/UFPB/UFPE/UFRN

diegoguimafil@gmail.com

 

A OBRA DE AGAMBEN A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA ANÁRQUICA

 

 

Esta investigação trata da possibilidade de trabalhar a obra de Giorgio Agamben de uma perspectiva anárquica. De partida, esclarece-se que não se trata de considerá-lo um filósofo anarquista, apontando os motivos para tanto a partir de artigos que tratam de uma proximidade possível entre Agamben e o anarquismo: From Inoperativeness to Action: On Giorgio Agamben’s Anarchism (FABBRI, 2011), On property and the philosophy of poverty: Agamben and anarchism (BIGNALL, 2016) e What is an insurrection? Destituent power and ontological anarchy in Agamben and Stirner (NEWMAN, 2016). Dando ênfase ao artigo de Saul Newman e aos seus livros The Politics of Postanarchism (2010) e Postanarchism (2015), veremos com esse autor uma possibilidade de apropriação de pensadores (não necessariamente anarquistas) por uma linha de pensamento anárquico, a qual ele define como pós-anarquismo. Assim, investigaremos relações da obra de Agamben com a anarquia tendo por referência o conceito de pós-anarquismo desenvolvido por Newman. Passando pelo conceito de anarquia, pelo pós-anarquismo e por aproximações possíveis destes com a obra de Agamben, investigaremos, no interior da obra do filósofo italiano, alguns momentos em que ele trata explicitamente da anarquia e do anarquismo, atendo-nos, sobretudo, às suas obras Il tempo che resta (2000), L’uso dei corpi (2014) e Creazione e anarchia (2017).

 

 

Edson de Oliveira Silva

Mestrando em Filosofia pela UFPB

edson.osilva@outlook.com

BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E POLÍTICA NA REPÚBLICA DE PLATÃO

O presente texto tem como objetivo analisar a relação existente entre ética e política na obra A República escrita por Platão. Tentaremos mostrar que, para o autor, não é possível a efetivação da boa política sem os pressupostos éticos que são subjacentes ao fazer político e que rege toda ação do governante. Uma vez que a política e a ética são indissociáveis qualquer tentativa de ação política desprovido de atitudes morais inviabiliza tal ação. Argumentaremos ainda que não se pode obter uma compreensão do modelo político proposto por Platão sem levar em consideração os pressupostos metafísicos, ontológicos, antropológicos, psicológicos e pedagógicos que permeiam e fundamentam o seu discurso. Apresentaremos as razões pelas quais acreditamos haver uma relação inexorável entre a ética e a política de modo que tal inseparabilidade resulta em uma abordagem cuja base conceitual está tão presente ao passo de impossibilitar qualquer tentativa de compreensão sem levar em consideração tal concepção, isto é, os pressupostos supracitados. Mostrar-se-á que não há condição de possibilidade do fazer político sem a adoção de uma postura ética que esteja em consonância com os princípios norteadores regidos por uma ordem racional que sustentam as decisões. Sendo assim, uma reforma do ponto de vista moral e intelectual constituiu suma importância para viabilizar a cidade ideal. A educação seria o meio pelo qual tal reforma seria possibilitada. Concluiremos afirmando que a boa política se faz por meio de uma boa educação que forme o homem para a vida em sociedade visando a coletividade em detrimento da individualidade. Ela também é o meio pelo qual é possível harmonizar o homem e a cidade.

Palavras-chave: Ética, Política, Platão.

 

Edson Gonçalves da Silva

Mestrando em Filosofia pela UFPE

edsonsilva.filo@gmail.com

 

AS POSSÍVEIS EVIDÊNCIAS EM TOMÁS DE AQUINO DA CONTINUIDADE DO CONHECIMENTO DA ALMA APÓS A DESTRUIÇÃO DO CORPO

Tomás de Aquino defende a unidade substancial de alma/corpo e a dependência do corpo para captar as imagens dos objetos externos, como defendia Aristóteles. Mas, como pensador cristão, Tomás discorda do mestre de que a alma seja mortal, diz que o intelecto, que é uma potência dela, não se transforma em um ser letárgico após a corrupção do corpo, nem regride, mas opera novas impressões de conhecimento, porque é imanente a alma intelectual esta operação. Em síntese: a alma pensa e produz conhecimento mesmo ao está separada do corpo. De onde poderia nascer essa vontade, se a alma não tivesse em sua essência a semente da sua imortalidade?

Palavras-chave: Tomás de Aquino; Intelecto; Alma separada; Intelecção pós-morte.

 

 

Edval da Costa Araújo

Mestrando em Filosofia pela UFPB

edparna@yahoo.com.br

A ALIENAÇÃO SOB A ÉGIDE DA MORAL MARXIANA

Vive-se em uma sociedade na qual os indivíduos não têm encontrado tempo para refletir sobre sua própria existência, valores e destino. Com o avanço da ciência e da técnica, aquilo que deveria ter evoluído como bem comum, tornou-se cada vez mais, bem particularizado, distante de igualar direitos e deveres numa sociedade em transformação. Talvez não se imaginasse que tal situação chegaria ao ponto que chegou, conduzindo o homem a uma situação de alienação. Neste sentido faz-se necessário um adequado esclarecimento em torno da Alienação do homem sob o paradigma da Moral marxiana. Logo, a pesquisa propõe-se analisar do ponto de vista filosófico o estado desse sujeito alienado conforme a égide da Moral, segundo o pensador alemão Karl Marx. Em razão disso, tomar-se-á, como fundamento teórico, a obra Manuscritos econômico-filosóficos de 1844. Deste modo, o estudo servirá ainda, para dirimir quaisquer que sejam outras intervenções ideológicas em favor da legitimação da alienação. Vale ressaltar, que alienação, segundo Marx, se dá, antes de tudo, numa relação entre homens e, ao mesmo tempo entre homens e objetos que lhe são exteriores. Assim, Marx dá-lhe um caráter e conteúdo econômico e social, pelo que o homem perde não apenas a identidade de si mesmo, a consciência de si, passando a pertencer ao objeto, à coisa, ao outro. Finalmente há um resgate da ética do passado que automaticamente ressignifica as condições de existência do homem. Portanto, a Moral, para além de suas criticas recebidas na perspectiva marxiana, pode impactar um efeito positivo na Alienação.

 

Palavras-chave: Alienação. Moral. Karl Marx.

 

Érika Pinheiro Araújo

Membro do Grupo Eule de Estudos em Filosofia e Crítica Social.

Professora de língua portuguesa e literatura no sistema Escola Cidadã Integral no Estado da Paraíba.

Graduada em Letras, habilitação em língua portuguesa pela UFPB.

erikaemina@gmail.com

 

ESQUECIMENTO & RUÍNAS: A PERSPECTIVA DA MEMÓRIA HISTÓRICA DE WALTER BENJAMIN NO ROMANCE O VENDEDOR DE PASSADOS

Analisamos criticamente o romance angolano O vendedor de Passados de José Eduardo Agualusa, com enfoque nos personagens, observando de que maneira a memória histórica é representada em determinadas perspectivas e de como o conceito de esquecimento e ruínas históricas pode ser reconhecido no romance. No corpus selecionado, fazemos distinção de Félix Ventura e Ângela Lúcia, primordialmente delimitando a configuração histórica na qual o tempo interno do romance está inserido, para em seguida identificar a representação e perspectivas históricas desses personagens. Não menos importante é necessária a observação no narrador: a osga. Consideramos como este narrador insere as “ruínas históricas” nos personagens citados (visto que o romance se desenvolve em terceira pessoa). Logo, além do enfoque sobre os dois personagens citados, percebemos ser necessária a delimitação de que, no romance, não apenas os personagens, mas também o narrador parte do que seria historicamente insignificante em face dos grandes acontecimentos históricos das revoluções em Angola. Trazemos a inflexão benjaminiana precisamente sobre as “ruínas históricas” na temática em tela. Benjamin, em Magia e técnica, arte e política, discute a relação entre história e literatura, estabelecendo parâmetros de análise a partir do conceito de história, narradores, e a relação dos grandes conflitos históricos com a mudança nos padrões de narrativas, o que inclui considerações sobre “memória traumática” e sua representação na literatura. A partir desses conceitos, delinearemos no corpus a perda ou declínio da experiência dos personagens e a singularidade de como essa narrativa reproduz a memória traumática. No que tange ainda às contribuições de Walter Benjamin, nesta análise utilizamos também, como apoio teórico, as considerações acerca do narrador no ensaio O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov; que entrecruzamos com alguns conceitos resgatados do ensaio Posição do narrador no romance contemporâneo, de Theodor Adorno.

 

Palavras-chave: Ruínas históricas. Memória histórica. Literatura.

 

Ernane Gomes da Silva Júnior

Mestrando em Filosofia pela UFPB

ernanesegundo@yahoo.com.br

 

A RELAÇÃO ENTRE AUTONOMIA PÚBLICA E PRIVADA NA FORMAÇÃO DO ESTADO DEMOCRATICO DE DIREITO SOB A PERSPECTIVA DE JÜRGEN HABERMAS

O presente artigo visa discutir a relação entre autonomia privada e autonomia pública na formação de um estado democrático de direito, propondo uma leitura procedimentalista fundamentada no pensamento de Jürgen Habermas. Desse modo, parte da análise das principais teorias sobre o tema, buscando como compreender o significado geral de uma relação social alicerçada no princípio da reciprocidade, identificando os pontos de tensão entre soberania popular e direitos fundamentais sob um ponto de vista de um sistema normativo e apontar quais as possibilidades de os indivíduos alcançarem a eficácia de suas liberdades subjetivas diante deste sistema de normas. A normativa jurídica das relações busca a solidariedade das relações interpessoais entre cidadãos estranhos com variadas visões de mundo e interesses individuais distintos, estabilizando assim as expectativas recíprocas de comportamento. Portanto, este artigo analisará as tensões que envolve ambas as partes, onde uma se caracteriza pela defesa de direitos políticos de participação e comunicação e a outra por direitos liberais à liberdade. Habermas propõe que as regulamentações que podem requerer legitimidade são justamente as que podem contar com a concordância de possivelmente todos os envolvidos que participem de maneira racional das discussões, dessa maneira, o processo democrático deve se fundamentar numa comunicação arquitetada que depende das condições onde se possa institucionalizar juridicamente as maneiras de se comunicar necessárias para a criação legítima do direito.

Palavras-chave: Autonomia privada. Autonomia pública. Eficácia. Direitos fundamentais.

 

Euza Raquel de Sousa

Mestre em Filosofia pela UFC.

Professora de Filosofia no IFRN (Campus Mossoró)

HISTÓRIA E POLÍTICA: DIÁLOGOS ENTRE MAQUIAVEL E GUICCIARDINI

Na origem do pensamento político moderno, Nicolai Maquiavel (1469-1527) e Francesco Guicciardini (1483-1540) são partícipes de uma complexa discussão sobre o vívere civile herdada do humanismo retórico-civil renascentista. Ambos dialogam sobre a importância e o papel dos estudos históricos, em especial aquele dos exemplos, para tornar possível uma ação política eficaz. Em Maquiavel, Política e História não se dissociam, porque unidas, permitem não apenas se compreender uma uniformidade na natureza, mas também tornam possível uma imitação (imitazione) daquelas que no passado foram eficazes. Os estudos históricos possuem, para Maquiavel, uma finalidade prática. Tais estudos permitem ao homem compreender as leis humanas e históricas que regem os acontecimentos. Guicciardini reflete sobre essa função político-pedagógica da história e nos propõe a ideia de discrezione, isto é, uma disposição que permite reconhecer, sem universalizar, a melhor atitude diante de cada situação. Ao lado da virtù de Maquiavel, a discrezione de Guicciardini também seria um mecanismo que visa orientar os homens para lidar com os problemas do tempo presente e, conforme sua filosofia, mais útil ao homem do que recorrer aos exemplos do passado. Apesar das críticas de Guicciardini à utilização do exemplo, e de certa recusa a toda teorização efetiva do político, ele reconhece a importância do conhecimento pragmático da história. Assim, temos por pretensão apresentar as reflexões de Maquiavel e Guicciardini na relação entre História e Política, com a finalidade de refletir acerca da existência, ou não, de um provável nas ações políticas, em especial porque crítica à ideia de que apenas a prudência ou virtù poderia servir de guia para os atores políticos. O que se pretende é pensar, em resumo, sobre a natureza mutável dos homens e a particularidade das coisas na crítica de Guicciardini à Maquiavel, partindo da compreensão guicciardiniana acerca da observação do particular como um meio para a compreensão dos fatos históricos e da natureza do homem.

 

Fábio José Barbosa Correia

Doutorando em Filosofia pelo PIPGF/UFPE/UFPB/UFRN

Professor de introdução a Filosofia, Filosofia da Educação e Ética. fabiobcorreia@hotmail.com

 

A POSSIBILIDADE DE UM ACORDO ENTRE OS POVOS EM TORNO DE UM ETHOS MUNDIAL, NA PERSPECTIVA DE LEONARDO BOFF

 

Todos querem estar certos! Todos, de alguma maneira, parecem ter o desejo de cultivar, ainda que em grau quase imperceptível, certo tipo de etnocentrismo em suas práticas. Um mundo extremamente multicultural, com práticas absolutamente diversas, divergentes e estranhas ao “outro” não pode promover uma convivência harmônica entre os povos sem um “ponto de contato” comum. De um lado uma tribo com suas práticas, algumas milenares, e, do outro, o branco recém-chegado apontando-lhe o dedo, afirmando tratar-se de comportamentos equivocados e que precisam ser contidos. Da mesma forma, o olhar do indígena para algumas práticas culturais dos “brancos” poderia revelar estranheza e desconforto. Nossas práticas são sempre as mais aceitáveis. Nossa visão de mundo é sempre a melhor e a mais importante. Se nos apegamos à religiosidade com o fim de promover a paz, caímos no conflito de interesse, que, supostamente, as mais diferentes divindades parecem ter. Quem será o árbitro? Quem definirá, sem cometer injustiças, quais práticas são e quais práticas culturais não são aceitáveis? Leonardo Boff propõe um grande acordo de pauta mínima a fim de buscar e promover uma convivência respeitosa entre os povos a partir do Ethos, que pretende que tenha características universais com poder suficiente de promover convergências e respeito naquilo que é absolutamente básico. Nesse artigo procuraremos abordar as dificuldades e possibilidades, propostas por Boff, a partir da especulação filosófica promovida pela ideia de um Ethos mundial, na busca de um consenso mínimo, que possa promover a paz e a possiblidade de convivência entre os diferentes.

 

Palavras-chave: Ethos. Ética. Moral.

 

 

Fernandes Antonio Brasileiro Rodrigues

Prof. Adjunto no Centro de Educação UFPB. Membro do Núcleo de Estudos e Atividades de Filosofia Latino-Americana (NEAFLA/UFPB

fabrasileiro@bol.com.br

 

ÉTICA E ALTERIDADE DESDE UMA RUPTURA DA TOTALIDADE EM DUSSEL

Pretende-se neste trabalho situar a Ética e Alteridade desde a influência levinasiana, a crítica que Dussel estabelece à tradição filosófica ocidental, do pensamento dialético ontológico que reduz o outro à mera diferença no interior da totalidade. A subjetividade sensível, em sua alteridade de ser, manifesta-se tanto na singularidade do ente, em Lévinas, quanto na particularidade do sujeito, do pobre, do povo, da vítima – a América –, em Dussel. Levanta-se como objetivo identificar a diferença entre o ser e o ente na dialética ontológica da tradição, desde uma compreensão da metafísica da alteridade em Dussel. A essa tradição filosófica se impôs, por meio de demonstração lógica, a totalidade, a identidade como ápice na busca da verdade e do ser. A totalidade seria, nesse sentido, o horizonte derradeiro, o ser que a tudo e a todos fundamenta: horizonte este que constitui o mesmo. Entendimento este, que nada pode situar-se fora do mesmo. Desse modo, o mesmo, como totalidade, se fecha num círculo que eternamente gira sem nada de novo ocorrer. Com esse movimento circular, que a tudo absorve e que tudo é, nega-se o devir histórico, a relação ética implícita. O que se manifesta no interior da totalidade está intrinsecamente vinculado a ela, dela deriva; por isso mesmo, não há possibilidade de transcendência. Nessa perspectiva, torna-se inconcebível o outro, na dialética da totalidade, monólogo do mesmo, na relação homem–natureza e, por isso, é o mesmo, o eterno retorno e o imóvel, é uma ontologia, onde o homem é um lógos diante de coisas. O contrário ocorre na analética da alteridade, em que a relação é irrespectiva, e o encontro acontece entre liberdade-liberdade, em uma relação metafísica, ética, na qual se funda toda e qualquer outra relação. Então, trata-se de estabelecer a diferença entre o ser e o ente, no pensamento de Dussel, a partir da perspectiva analética da alteridade.

Palavras-chave: Alteridade, totalidade, colonialismo

 

Francisca Palloma Soares Paulino

Doutoranda pelo PIPGF/UFPB/UFPE/UFRN

pallomasoaresp@gmail.com

 

O VOCABULÁRIO DA GUERRA E O TERROR EM ARMAS DO FUTURO, DE WALTER BENJAMIN

 

Uma guerra é uma circunstância planejada e, sob a sua órbita, mecanismos são constantemente desenvolvidos para manterem seu caráter de terror iminente. Com o passar do tempo, a necessidade de tornar tanto menos possível a reação do adversário faz com que se insurja – de modo mais violento e sutil – a urgência de apresentar meios elaborados de coerção. Acerca desta problemática, Walter Benjamin em um texto publicado em 1925 intitulado As Armas do Futuro, fornece-nos uma sóbria análise do cenário de ameaças bélicas do período entre guerras. De acordo com o autor, o vocabulário bélico é atualizado após cada guerra – e não sem motivo, visto que é preciso manter vivo e constante o terror que o inesperado encontro com novas armas ocasiona. Os ataques aéreos com gás, por exemplo, garantem o pavor perpétuo de uma população. Seus efeitos tomam um caráter psicótico de exemplaridade. O objetivo deste trabalho é realizar uma breve exposição deste artigo de Walter Benjamin e realizar, a partir de seus argumentos e observações, uma reflexão acerca do poder estatal, ligado a guerra, e das condições sob o domínio das quais se torna imperativo elaborar meios aprimorados de contenção. Apesar do aparato de armas utilizado pela argumentação benjaminiana ser considerado atualmente caduco, é importante considerar que a função para qual este material foi pensado em sua época mantém-se nos nossos dias com irreparável vigor. O terror com o qual se teve de conviver às portas da Segunda Guerra Mundial, aliás, conseguiu ser dissipado nas relações cotidianas do mundo globalizado com eficiência e longevidade, como num exercício perene de castração social.

Palavras-chave: Técnica. Guerra. Walter Benjamin.

 

Gedeon José de Oliveira

Mestrando em filosofia pela UFPB

geday7@msn.com

 

A ONTOLOGIA DE MARTIN HEIDEGGER COMO HERMENÊUTICA ÉTICA.

Quando Heidegger diz “o princípio do fundamento é um falar sobre o ser”, ele é isso, mas de um modo escondido. Escondido permanece não apenas aquilo de que fala, oculto permanece também o que ele fala do ser, resgata a filosofia como ciência do universal. O que seria então o “universal”? O ser revela o conceito, o conceito, tanto na história da filosofia quanto na filosofia metafísica, a rigor, são história e filosofia do universal, não do particular. Sendo assim, o dizer é também tornar histórica a essência do homem. Partimos do pressuposto que a pergunta pela metafísica objetiva tornar compreensível a crítica ao modelo de filosofia fragmentada, assim como à ciência do particular. A ciência desde Descartes, não pensou a realidade em termos de universalidade, mas universalizou o conceito de realidade. Ou seja, a ciência particulariza o ser no ente e a partir do particular tende a universalizar o conceito abstraído do ente. Deste modo, o caminho percorrido por Heidegger, desde as condições pré-ontológica à ontologia do ser enquanto ser, nos provoca a pensar a relação entre realidade e o conceito de realidade. Em tal relação, se destaca a ideia de historização do ser, na análise existenciária. Neste sentido, a filosofia se torna uma forma de pensar o problema da relação entre realidade e a ideia de realidade. Na América-latina enquanto realidade espacial e temporal, quais os problemas a serem pensados? Essa questão vai ser desenvolvida por Dussel, à medida que a filosofia da libertação propõe historicizar o ser desde a América Latina.

Palavras chaves: universal, particular, história, América Latina.

 

 

Giuseppe Tosi

Doutor em Filosofia pela Universidade de Padova, Itália

Professor Titular do Dept. Filosofia UFPB

pinuccio@uol.com.br

 

A CRISE DO LIBERALISMO POLÍTICO NA ÉPOCA DO LIBERALISMO ECONÔMICO E DO POPULISMO.

 

Após a queda do muro de Berlim, Norberto Bobbio e outros intelectuais liberais, manifestaram a cautelosa esperança de que o encerramento do período histórico da guerra fria abriria uma nova era de expansão do Estado Democrático de Direito no mundo. Esta esperança (que não se confundia com a tese do fim da história de Fukuyama) se realizou em parte: houve efetivamente uma internacionalização do Estado Democrático de Direito em algumas áreas do mundo, como os países do Leste Europeu e a América Latina, que encerrou o trágico período das ditaduras militares: a “terceira onda” como a chamou Samuel Hungtington.

No entanto, este panorama mudou e está mudando rapidamente nos últimos tempos. Os países que não experimentaram historicamente a democracia, como a China e a Rússia, são governados por regimes de liberalismo econômico e de autoritarismo político; as primaveras árabes não resultaram em regimes democráticos, mas em guerras civis e/ou ditaduras militares; e nos países de tradição democrática como a Europa e os Estados Unidos a ideologia política que mais cresce é o populismo, nas suas diferentes variáveis.

A esperança de uma internacionalização da democracia está sendo substituída por uma descrença na democracia, inclusive nos países onde ela nasceu: ver, por exemplo, alguns títulos de livros de recente publicação nos Estados Unidos sobre a democracia: Jason Brennan Against Democracy; Yascha Mounk, The People Versus Democracy, Levitsky and Ziblatt, How democracies die; Larry Diamond, se pergunta se há um declino global da democracia, após a terceira onda descrita por Hungtinton; o sociólogo espanhol Manuel Castells acaba de lançar um livro com um titulo significativo: Ruptura. A crise da democracia liberal. Por outro lado, há um crescimento do populismo de direita, cujo maior ideólogo é Alain de Benoist, que publicou recentemente Populismo. Além da direita e da esquerda.

Os regimes autoritários como a China e a Rússia estão desafiando as democracias ocidentais em nome de uma superioridade do seu modelo, que reúne autoritarismo político e liberalismo econômico, diante das fragilidades e ineficiências das democracias liberais, que não conseguem dar conta dos processos de globalização econômica, política e social.

O Brasil está plenamente inserido nesse contexto, através de uma perigosa aliança entre um populismo autoritário de extrema direita, e um neoliberalismo radical que ameaça os direitos civis, políticos e sociais e que pode levar ao fim do processo de democratização que estava se consolidando após o fim das ditaduras militares.

Diante deste contexto, queremos debater neste colóquio, a atualidade do liberalismo político para os tempos que estamos vivendo, a necessidade de sua reforma ou superação; na esperança de que não se trate dos “últimos capítulos” de uma longa e gloriosa história.

 

Palavras-chave. Liberalismo político; Liberismo econômico; Populismo.

 

 

Ilíada Santos Botelho

Doutoranda em filosofia pelo PIPGF/ UFPB/UFPE/UFRN

Iliadah87@gmail.com

 

A COMUNIDADE DE PESSOAS PLATONICAMENTE BOAS: UTOPIA OU POSSIBILIDADE REAL?

 

No livro IV da República, a teoria da alma de Platão versa sobre suas partes, às quais são conferidas virtudes, a saber: a concupiscente ou apetitiva, onde se originam os desejos e corresponde à virtude da moderação; a parte irascível ou colérica, cuja virtude corresponde à coragem, onde também se registra o cuidado com ameaças ao corpo e o combate a elas; por fim a parte racional, a razão. Uma vez que as partes tendem a viver em permanente conflito, a razão, com sua virtude da sabedoria, tem função capital, ela deve superintender sobre as demais partes. Para tanto, é necessário um equilíbrio radicado na virtude da moderação, comum a todas as partes. Assim descrita, a teoria da alma, segundo o estudioso, Julius Moravcsik, se associa ao que ele defende como a ética ideal em Platão. O que isso quer dizer? A partir de um caráter adequado a um determinado objetivo, é possível distinguir o tipo de pessoa que comporia a comunidade de pessoas platonicamente boas, na qual, por exemplo, seus membros não desejariam fazer mal algum a quem quer que fosse. Servindo-nos da investigação de Moravcsik, procuraremos elucidar o que seria essa ética ideal, bem como a possibilidade de haver, e/ou de se desenvolver o tipo de pessoa que comporia tão peculiar comunidade.

 

 

Jaldes Reis de Meneses

Doutor em Serviço Social pela UFRJ

Professor Associado do Departamento de História da UFPB

jaldesm@uol.com.br

ENTRE GRAMSCI E POLANYI: A REVOLUÇÃO RUSSA E REVOLUÇÔES PASSIVAS

 

Inaugural e fundamental, a Revolução Russa de 1917, evidentemente, não foi a única novidade societária do século XX. O século XX foi também o século das Revoluções Passivas (Gramsci). No encalço e na negação dialética do socialismo chegaram Fascismo, Nazismo, Salazarismo, Franquismo, New Deal, além de regimes como o Peronismo e o Varguismo na periferia latino-americana, que poucos anos adiante, também constituíram múltiplas e contraditórias respostas à crise global do capitalismo e da superestrutura que o reproduzia até então, o Estado liberal clássico. 

O tempo de vigência do Estado liberal clássico foi a Belle Époque, começos do século passado. Neste sentido, uma das interpretações possíveis da tese do século XX “curto” (1918-1991) é que, desde essa época, o liberalismo clássico desapareceu e nunca mais retornou como prática fundamental de governamentalidade. Assim - e esta tese é fundamental na compreensão deste texto -, não foi o liberalismo clássico ou a superioridade isolada do mercado que derrotou o socialismo de Estado soviético, mas uma complexa experiência de Estado ampliado que derrotou o concorrente.

 Neoliberalismo não é somente Estado estrito senso, mas Revolução Intelectual e Moral, Estado ampliado. Em “A grande transformação”, Karl Polanyi deixou claro que a distinção entre liberalismo clássico e neoliberalismo reside exatamente na consciência que toda economia capitalista requisita um protagonismo estatal, não apenas na inspeção de garantia dos contratos, mas no ativismo político aberto em prol do capital. Pensar capital fora da política trata-se de um conto de fadas de final infeliz. Por isso, apesar do discurso, já de quatro décadas, em defesa de um inalcançável “estado mínimo” não decaiu a arrecadação de impostos, nem rigorosamente diminuiu a máquina pública e os contratos do Estado. Apenas desviou-se - a guisa de uma retórica de “responsabilidade fiscal” - a ordem de prioridade dos recursos do fundo público, das políticas sociais para a remuneração da dívida pública. 

Escreve-se muito sobre as diferenças políticas entre marxismo e neoliberalismo. Talvez fosse melhor também prestar mais atenção às diferenças entre liberais da Belle Époque e neoliberalismo de hoje. Em primeiro lugar, a teoria neoliberal jamais postulou Estado mínimo e laissez-faire. Tanto quanto os marxistas, os neoliberais não crêem no mito de um ponto permanente de equilíbrio da economia capitalista, como idilicamente acreditavam os adeptos da teoria neoclássica. Schumpeter radicalizou a tese garantindo, em vez do "equilíbrio geral”, o que caracterizava o capitalismo era o desequilíbrio da "destruição criativa".

 

 

Jonhn Leno Mariano de Lima

Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas.

Membro do grupo de pesquisa: Subjetividade e Crítica ao

Sujeito Moderno desde América Latina.

jonhn.lima@ichca.ufal.br

 

SUBJETIVIDADE E CRÍTICA AO SUJEITO MODERNO EM PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA

 

O Sujeito Moderno originário da América Latina, é o sujeito que é dependente e tomado como recipiente de transplante e não produtor ou criador, tornando se referência para si mesmo e posteriormente para o mundo. O presente estudo busca uma reflexão rigorosa do Sujeito Moderno a partir de uma Subjetividade Crítica a este sujeito, o sujeito produzido pelo eurocentrismo. Tomando estes sujeitos em sua dependência, é notada a existência neles de uma singularidade colonial, os quais são oprimidos por situações aceitas como a única realidade; deixando se influenciar pela mesma, sem a devida análise crítica nem tampouco de suas premissas. Tomando este fenômeno com o nome de substrato de realidade e, em consequência, como a verdadeira realidade à qual o sujeito latino-americano está em constante situação: nós nos experimentamos como carentes de subjetividade própria. Percebendo com a situação anterior a relação que se estabelece entre subjetividade e aquilo que seria uma identidade própria, neste caso, do sujeito latino-americano. Tentativa à qual nós estamos, por nossa condição de dependentes, a procura de uma construção básica de nossa própria subjetividade, ora como povos, ora como sujeitos descolonizados. Todo isso nos leva a criticar, também, a nosso próprio pensamento; o qual se apresenta, por dentro, como uma fantasia que supomos ter de nós ao acreditar que fazemos e produzimos um conhecimento original; incluso o conhecimento que tentamos produzir através de uma repetição de conceitos já elaborados por outros sujeitos, fundamentalmente, de além mar; permeando apenas uma falsa ideia de que nós somos os construtores fiéis do saber. Assim, o trabalho perpassa por dentro de uma reflexão do sujeito, como instrumento de crítica, dando uma grande ênfase ao sujeito colonial da modernidade e à crítica ao sujeito moderno feita tanto de dentro para dentro, bem como de dentro para fora. Portanto, o sujeito da América Latina deve antes de mais nada se conhecer em sua plenitude, de um ponto de vista, cultural, religioso, intelectual, etc., permeando, assim, uma vislumbrada originalidade enquanto povo latino - americano merecedor de uma subjetividade própria e de uma condição digna de sujeito histórico.

Palavras-chave: sujeito; subjetividade; crítica; transplante; América Latina; realidade.

 

José Carlos Valério

Doutorando pelo PIPGF/UFPB/UFPE/UFRN

Professor Assistente da Universidade Estadual de Alagoas

valerio.jcarlos@gmail.com

 

A RELAÇÃO ORIGINÁRIA ENTRE POESIA E FILOSOFIA

O nosso trabalho visa a mostrar dois acontecimentos plausíveis: A poesia e a filosofia, pois entre ambos vêm ocorrendo relações de proximidade e distância. Destacaremos, portanto, o poetizar de Homero, Simônides, bem como o pensar dos primeiros pensadores gregos chamados de pré-socráticos, a exemplo de Parmênides de Eléia, cujo pensamento do ser contribuiu, sobremaneira, para o filosofar de Platão entre outros; por conseguinte, Heráclito de Éfeso nos traz à luz seus fragmentos de cunho poético com um pensar filosofante. O dizer poético se caracteriza pela diferença ontológica no âmbito da linguagem originária. Isso diferencia tal dizer da conceituação objetivadora, marcada pela racionalidade tardia. Para tanto, tomaremos por apoio o pensamento de Heidegger e o poetizar de Hölderlin, como referenciais hermenêuticos para o confronto com a racionalidade.

 

José Leonardo Alexandre Lacerda

Mestrando em Filosofia pela UFPB.

leonardo-lacerda@hotmail.com

 

O DIVÓRCIO ENTRE O HOMEM E O MUNDO: UMA ANÁLISE DO ABSURDO EM ALBERT CAMUS

 

Esse artigo tem como proposta discutir o absurdo como resposta à relação de divórcio entre o homem e o mundo. Tema central do filósofo Albert Camus na sua obra O Mito de Sísifo, onde o absurdo não é tratado por Camus como uma abstração, pelo contrário, como algo prático e concreto que faz parte da condição humana. Esse sentimento de absurdo é experienciado em algum momento de nossa vida. Para Camus, o absurdo surge diante das crenças demolidas em um mundo onde não corresponde mais às expectativas humanas. A consequência do absurdo está justamente no divórcio entre o homem e o mundo, em um conflito entre o que buscamos do universo e o que encontramos nele. Vivemos entre o desejo de clareza e, ao mesmo tempo, na compreensão da irracionalidade do mundo. Diante desse desacordo, o homem passa a sentir-se como um estranho em um mundo desprovido de significado. Esse sentimento do absurdo nos expulsa de uma vivência cotidiana e de uma existência de aparente significado. Contudo, Camus não buscará uma união desse conflito, o absurdo para Camus é uma contradição que não podemos tentar conciliar, mesmo sem respostas diante do mundo em silêncio, a tentativa de unir o conflito entre nossa necessidade de respostas e o silêncio do mundo, seria uma fuga do absurdo em vez de enfrentá-lo. Camus caracterizará nossa relação com o absurdo diante da total ausência de esperança como uma rejeição de uma metafísica e uma contínua revolta consciente. Camus acredita que sua filosofia não pode deixar de lado essa ideia essencial que é o absurdo da própria existência, pois, é dele que surge o questionamento acerca do sentido da vida. A questão prática deste artigo está na relação do absurdo com a ideia de que a vida não tem sentido. Por fim, Camus espera que enfrentemos as consequências do absurdo no lugar da fuga. Quer sejam através do suicídio físico ou, quer sejam pelo suicídio filosófico, o importante é sabermos se podemos viver com esse sentimento de divórcio entre o homem e o mundo.

 

Palavras-chave: Homem. Mundo. Divórcio. Absurdo. Camus.

 

 

José Ronaldo de Oliveira Marques

Doutorando pelo PIPGF/UFPB-UFPE-UFRN

j.ronaldomarques@gmail.com

 

FUNDAMENTALISMO E RELIGIÃO NO ESPAÇO PÚBLICO – UMA ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO POLÍTICO A PARTIR DO PENSAMENTO DE JÜRGEN HABERMAS

 

Habermas tem refletido sobre o papel da religião no espaço público, abrindo espaço para o diálogo entre os cidadãos religiosos e não religiosos. O autor, a partir da teoria da ação comunicativa, buscava resolver os problemas morais e filosóficos pela ideia do melhor argumento, chegando a um grande impasse com relação a religião em nossos tempos. Pois como solucionar, em uma sociedade amplamente secularizada com os valores conquistados pelo aufklerug, o avanço do fundamentalismo religioso, sendo que sua teoria comunicativa é racional ligada a ideia kantiana de razão pública? Em sua análise da religião, a partir da obra Entre o Naturalismo e a religião, existe uma autonomia da religião e uma certa crítica ao pensamento de Rawls que limita o papel dos religiosos na esfera pública. Ainda, para o autor, o 11 de setembro de 2011 foi momento de ressignificação do papel da religião no mundo. Embora tenha se tornado um evento anticivilizatório e anti-Ocidental contrários a própria mensagem de paz e fraternidade que a religião possui nas suas origens, o 11 de setembro foi um dos eventos mais violentos e irracionais da história contemporânea. O resultado é de um movimento fundamentalista que tem se espalhado pelo mundo e influenciando, inclusive, a política no Ocidente. Portanto, devemos refletir esta problemática começando do próprio diagnóstico habermasiano da realidade. A partir das ideias dos direitos humanos e do próprio estado de direito democrático que garantem a proteção das minorias, bem como a ideia de pluralismo. Ideias estas que também resguardam as identidades culturais e religiosas. Porém até que ponto a religião pode ir? Será necessário impor limites aos cidadãos religiosos? E estes limites não criariam cidadãos de segunda classe? Não se pode esquecer também a tradição secular e as liberdades religiosas. Desafios estes que são quase intransponíveis. Habermas busca a mediação do direito, contudo acreditamos que só o direto não resolveria, pois, o próprio direito necessita de uma fonte moral que está na própria religião.

 

Palavras-chave: Fundamentalismo; Religião; Espaço público.

 

 

José Tadeu Batista de Souza

Doutor em Filosofia pela PUCRS

Professor da UNICAP

jtadeuoli@hotmail.com

 

A CATEGORIA DA RESPONSABILIDADE COMO FILOSOFIA PRÁTICA EM LEVINAS

A responsabilidade constitui-se em requisito fundamental para a conduta ética de vários profissionais no mundo empresarial, nas ciências, no campo das tecnologias e nas instituições do serviço público. Em todas essas instâncias vigora a compreensão de que o sujeito responsável é aquele que põe em prática os princípios e as regras dos códigos das respectivas éticas. O presente texto tem por objetivo apresentar reflexões de Emmanuel Levinas sobre a categoria da responsabilidade elaborada na obra De outro modo que ser ou para lá da essência. Tentar-se-á pôr em evidência que a compreensão levinasiana da responsabilidade tem uma perspectiva bem diferenciada das proposições tradicionais. Ele propõe uma alternativa radical às formulações estabelecidas por julgá-las ineficazes, enquanto são assimiladas como eventos teóricos, e, como tal, são produzidas por processos de racionalidades arraigadas nas formalidades lógicas e abstratas. As vigências das práticas julgadas éticas não incidem diretamente nas dinâmicas do viver humano no âmbito da natureza, nem na sociedade com suas múltiplas instituições, nas quais as pessoas têm de se relacionar, necessariamente, para garantir suas condições de ser natural, de sociabilidade e de relações. A responsabilidade, compreendida como acontecimento extraordinário do encontro humano, poderá reconstruir o sentido da eticidade e se tornar no fundamento das significações do existir. Em um primeiro momento, serão apresentadas reflexões em torno da ideia de responsabilidade para além da ontologia. Em um segundo momento, será exposta a compreensão de responsabilidade como dizer a outrem. Concluir-se-á que a responsabilidade é um conceito constitutivo da proposição levinasiana da ética como filosofia primeira.

Palavras-chave: Levinas. Responsabilidade. Ética. Outro.

 

 

Judite Eugênia Barbosa Costa

Doutoranda no Programa Integrado de Pós-Graduação em Filosofia (PIPGF/UFPB-UFPE-UFRN)

jeafrodite@gmail.com

 

O ESTADO ‘LEVIATÃ’ COMO A ARTE DA REPRESENTAÇÃO: uma análise estético-poética do pensamento político de Thomas Hobbes

 

Resumo: Estado de Natureza, Contrato, Estado Civil, Representação Política, Filosofia Moral, dentre outros fazem parte de um repertório linguístico elaborado por Thomas Hobbes no corpo de suas obras. Um dos pontos-chave de sua investigação, diz respeito a uma das questões fundamentais do pensamento político moderno: Qual seria a origem da associação política entre os homens e, consequentemente, do poder político? De outra maneira, como a sociedade e o Estado começaram? Como é que os homens passaram a se organizar socialmente? Para compreendermos tudo isso, Hobbes considera hipoteticamente como seriam os homens no Estado de Natureza. Para responder tais questões, convém observar que, no estado de natureza todos os homens são rigorosamente iguais tanto na capacidade física quanto mental, assim, para Hobbes, a instituição do Estado como poder soberano capaz de neutralizar o estado de insegurança que domina os indivíduos na condição natural, só será possível mediante um pacto de união entre os indivíduos. Ou seja, para que o Estado civil possa tornar-se real, é preciso que os indivíduos realizem um pacto recíproco transferindo parte do direito que cada um possui sobre todas as coisas a um terceiro (soberano), uma pessoa artificial que representará a todos sem exceção, devendo realizar todos os atos e decisões, a fim de alcançar a paz. No bojo dessas considerações, este ensaio tem como finalidade analisar a importância das metáforas como modelos linguísticos de representação epistemológica e política na filosofia política de Thomas Hobbes, bem como possibilitar uma releitura do conceito de representação política à luz da política contemporânea. Pretende-se esclarecer os fatores enunciativos, semânticos e epistemológicos dos conceitos formulados por Hobbes, tais como: Estado de Natureza, Contrato, Estado, Representação, Estética e Ética no contexto de suas obras a partir do debate historiográfico presente nas produções de Leo Strauss, Quentin Skinner, Chistopher Hill, Carlo Ginsburg; Mônica Vieira, visando analisar de forma integrada o modelo de proposta do Estado soberano, assim como os paradoxos recorrentes na análise de sua teoria política e seus desdobramentos na arte da política.

Palavras-chaves: Estado Civil. Metáfora. Liberdade. Soberano. Direito.

 

 

Kíssia Wendy Silva de Sousa

Graduada em Serviço Social pela UFPB

Membro do Grupo de Pesquisa Estudos em Filosofia e Crítica Social – EULE

kissiawendy@hotmail.com

 

FUNDAMENTOS ONTOLÓGICOS DO TRABALHO E DO SER SOCIAL

Partindo-se do ponto de vista biológico, pode-se afirmar que o homem nasce adaptado para o trabalho, por características corpóreas que configuram suas mãos para o manuseio de objetos, bem como de uma capacidade intelectiva superior a dos outros animais em decorrência do desenvolvimento diferenciado de seu cérebro. O homem se afirma como ser social à medida que realiza essa atividade teleológica, logicamente orientada e idealizada previamente (prévia ideação), retirando da natureza o meio necessário para atender as suas necessidades. Esse movimento de idealizar, construir objetos e extrair da natureza os meios necessários para além da sobrevivência é o que configura o trabalho como atividade particular e ineliminável à espécie humana. Este estudo tem como objetivo apreender a categoria Trabalho e as alterações que a conformam nos diferentes modos de produção na história. Busca-se, sobretudo, o entendimento desta categoria nos moldes do capitalismo: trabalho alienado e assalariado. Para tanto, faz-se necessário captar, a priori, o caráter universal da referida categoria, para assimilação dos fundamentos ontológicos do Ser Social, rumando para a análise dos seus atributos na particularidade da sociedade capitalista. Assim, há um esforço em busca de se sublinhar a centralidade da categoria Trabalho, ressaltando as mudanças que foram operadas em torno da mesma e que se deram em consequência das alterações consubstanciadas na sociedade, mediante a transição dos modos de produção da vida material na história. Fomenta-se um debate pautado nas bases sócio históricas e filosóficas de uma ontologia fundamentada no movimento dialético do trabalho, em que convém destacar a discussão em torno do "Ser consciente" na história, considerando algumas mediações entre realidade e consciência, visando também uma aprimorada análise do Trabalho Alienado e do Trabalhador Conjunto/Coletivo, com ênfase nas propriedades do Trabalho, da sociabilidade e de como se dá a Individuação no mundo contemporâneo. Se o trabalho do ponto de vista ontológico é o meio pelo qual se dá a gênese do Ser Social (trabalho concreto), no Modo de Produção Capitalista, observa-se que as características por ele assumidas, fazem com que sua capacidade ontocriativa seja subsumida em detrimento, sobretudo, da alienação e do assalariamento (trabalho abstrato). Deste modo, cumpre observar que com o curso da história vários modos de produção foram ultrapassados e cada vez mais o trabalho foi se especializando e as relações sociais aparecem moldadas de acordo com as forças produtivas, portanto, a sociabilidade está intrinsecamente ligada ao trabalho.

Palavras-chave: Trabalho; ontologia; sociabilidade.

 

Luana Alves de Oliveira

Mestranda em Filosofia pela UFRN.

luana.nt@hotmail.com

O MUNDO TÉCNICO E O FORTALECIMENTO DO IMPESSOAL: DA EDUCAÇÃO TÉCNICA A IMPORTÂNCIA DO INÚTIL

A presente pesquisa busca abordar dois conceitos fundamentais para o pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger, são estes: O ser e a técnica. No ano de 1927, Heidegger publicou a sua grandiosa obra, Ser e Tempo que se dedicou de maneira exemplar a compreender o sentido do ser, mas não só isso, um grande passo foi dado na questão da compreensão da existência, como fonte possibilitadora de aproximação do ser e de tudo que requer ao homem ser. Na conferência sobre A questão da técnica de 1953, Heidegger mais uma vez exalta a importância da compreensão do ser, quando apresenta a importância de se atentar para a essência da técnica. A técnica, nesse sentido, deve ser compreendida por meio de uma perspectiva ontológica, uma vez que o relacionamento próprio com sua essência é o que pode nos aproximar da compreensão do perigo salvador. Apresentamos a questão do Dasein como ser-no-mundo, ser-com, ser-em, ser-junto e a forma de ser cotidiana que é denominada de impessoal, impróprio ou a-gente. O impróprio é aquele ser que todos nós somos no cotidiano ser-um-com-o-outro. A questão da técnica será apresentada em diversos aspectos, trataremos da Gestell e da relação da técnica com a forma de ser do a-gente. Abordaremos ainda, a questão da educação tecnicista e da importância do inútil como uma atitude meditativa impulsionada por um novo olhar ao que se mostra e que nos direciona para o apelo do ser. Buscaremos dessa forma, demonstrar por meio do pensamento heideggeriano, a necessidade de se voltar para o ser e ouvir o seu apelo que ecoa, em meio ao mundo técnico.

Palavras Chaves: Ser. Técnica. Impessoal. Educação.

 

Luciana Azevedo Rodrigues

Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos

Professor adjunto da Universidade Federal de Lavras

lunazevedo@gmail.com

 

IMAGENS TÉCNICAS E IMAGENS MENTAIS: CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO FILOSÓFICO DE C. TÜRCKE PARA UMA LEITURA DE “TERRA EM TRANSE” NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

O filme " Terra em transe" é analisado neste trabalho a partir do pensamento de C. Türcke sobre o processo histórico e social de sedimentação e dessedimentação do sensório humano. Nele, são retomados os conceitos de compulsão a repetição traumática, exploração da concentração, dessedimentação e ressedimentação da capacidade de concentração. No desenvolvimento da análise, destaca-se um modo peculiar de evidenciar a precariedade na produção das imagens em relação viva com a precária condição do corpo humano frente ao aparato técnico de produção das imagens. A análise da estética do filme fundamentada nos conceitos filosóficos estudados evidencia-o como alegoria da necessidade humana de recuperação dos abalos sofridos seja com o Golpe Militar de 1964 seja com o turbilhão de imagens audiovisuais dos tempos atuais. Os nexos elaborados entre o transe do filme e o do tempo atual tem em vista provocar a reflexão de professores/professoras em torno da necessidade de valorizar o exercício de formar imagens mentais e o olhar retrospectivo do "transe" diário que vivem em suas práticas pedagógicas como caminho na direção de reduzir os efeitos deletérios de tal transe para o domínio da própria atenção. 

 

Palavras-chave: filme- compulsão a repetição- transe- concentração

 

Manoel Uchôa

Mestre em Direito pela UFPE

Professor assistente I da Universidade Católica de Pernambuco

manoel.cuo@gmail.com

 

A DEMOCRACIA POR-VIR EM JACQUES DERRIDA: UMA PRÁTICA AUTOIMUNITÁRIA EM TEMPOS DE TERROR

No Contrato Social, Rousseau marca um vício inerente e inevitável do corpo político tender, desde o nascimento, a destruição porque o Governo se volta contra o Soberano. Isto é, o sistema de representação pode fechar em si mesmo ou dissolver o Estado a fim do príncipe usurpar o poder soberano. Parece ser a tônica da democracia representativa gerar as condições de sua própria negação. Assim, a crise da democracia não se daria em virtude de uma ameaça externa meramente, mas de seu interior. Atento a esse preceito, Jacques Derrida propõe a noção de autoimunidade. Um corpo ao gerar os meios de sua proteção, garantindo-se contra danos exteriores, produz uma inflexão em que os próprios meios protetivos trabalham contra a comunidade mesma que defenderiam. Há uma contradição inerente à política em que, na proximidade aos outros, é necessário demarcar uma distância. A prática política instaura uma situação em que viver com os outros impõe uma aporia em fazer comunidade e fazer imunidade. Ser livre, portanto, consiste em evitar ações dos outros, porém equalizar a liberdade frente a vida com eles. Entretanto, apesar de um diagnóstico destrutivo, a possibilidade de pensar o povir do corpo político emerge dessa tragédia. Dessa forma, a democracia expressa essa questão fundamental da política. Entre existir enquanto forma de governo ou formação social, enquanto processo de legitimação do poder ou um modo de vida, a democracia endereça um desafio prático: a democracia está sempre por-vir. Nessa questão, este trabalho tem por objetivo analisar a noção de democracia por-vir de Jacques Derrida. A compreensão de tal noção emerge como um enigma na obra do filósofo franco-argelino. Assim, propõe-se um caminho para explicitação do conceito. Primeiro, é preciso esclarecer a condição da democracia contemporânea em função de uma apropriação pela soberania dos Estados. A lógica de assimilação constitui uma aparato jurídico-militar de controle da prática democrática, principalmente em vista de chamada “Guerra ao Terror”. Então, o segundo momento do trabalho se detém em analisar a noção de autoimunidade enquanto desenvolvimento destrutivo da lógica soberana. Na medida em que os Estados recrudescem suas forças em favor de um primado de segurança antiterrorista, eles geram mais terrorismo e insegurança. A democracia é tomada por uma situação excepcional em prol da proteção do Estado. Por isso, num terceiro momento, é necessário explicitar a condição autoimune da democracia. A prática democrática precisa criar sua própria destruição para produzir novas comunidades com os outros.

Palavras-chave: Democracia; Autoimunidade; Terrorismo.

 

Marcela Cássia Sousa de Melo Benício Figueiredo

Doutoranda pelo PIPGF/UFPB/UFPE/UFRN

Professora Assistente I (UFRPE-UAST)

marcela_cassia@yahoo.com.br

 

A METODOLOGIA DOS ESTUDOS VIQUIANOS: POR UMA FILOSOFIA PRÁTICA

O intuito da presente pesquisa é pensar uma Filosofia Prática a partir do pensamento do filósofo italiano Giambattista Vico (1668-1744), uma vez que falar de vida ativa na sociedade, de seres com natureza social, leva o indivíduo a avaliar o seu papel no meio civil, faz com que as pessoas pensem nas relações para com as outras pessoas e que os vínculos comunitários sejam retomados, questionados e, por isso mesmo, valorizados. No geral, e muito provavelmente por isso, os estudos viquianos são ainda minoria nos círculos acadêmicos da Filosofia, seguindo inclusive um estigma de marginalização que o próprio autor teve. Vale destacar que o autor italiano não se limita à via unilateral da filosofia, mas propõe uma articulação com a história da humanidade, os costumes das nações, o senso comum e outros aspectos filológicos, questões presentes em todas as suas obras, em especial, na sua Scienza Nuova (1744). Sendo assim, nosso objetivo aqui é apresentar que a articulação entre a filosofia e a filologia se apresenta como recurso metodológico específico nos estudos viquiano e, consequentemente, uma via alternativa para a investigação sobre o estudo das nações.

Palavras-chave: Metodologia-Filosofia-Filologia

 

Márcio José Silva Lima

Doutor em Filosofia pelo PIPGF/ UFPB/UFPE/UFRN

Professor da Secretaria de Educação do Estado da Paraíba

marciohistotiaefilosofia@gmail.com

 

O TOTALITARISMO DE HANNAH ARENDT NA OBRA 1984 DE GEORGE ORWEL

Por muitas vezes a literatura funciona como um reflexo do pensamento filosófico. Enquanto obra de arte, ela opera como um dispositivo capaz de expressar na prática aquilo que, em certa medida, os conceitos filosóficos não conseguem explicar. A literatura então, acaba por se tornar um modo prático pelo qual o pensamento filosófico pode ser compreendido. Com base no exposto, a presente comunicação tem como objetivo apresentar o Totalitarismo segundo Hannah Arendt para, em seguida, relacioná-lo com o ambiente distópico encontrado na obra 1984. Em outras palavras, buscaremos analisar o conceito de sistema totalitário à luz do pensamento da filósofa e depois comprovar se este sistema pode ser encontrado na obra literária de George Orwel. Neste contexto, duas obras serão de fundamental importância para o nosso estudo: As Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt e 1984 de George Orwel. Publicado em 1951, com o título O Fardo de Nossos Tempos, As Origens do Totalitarismo traça um panorama histórico e conceitual dos movimentos políticos totalitários existentes no século XX: o nazismo na Alemanha e o comunismo stalinista na Rússia. Já o livro 1984, publicado em 1949, apresenta os possíveis desdobramentos desses movimentos situados numa sociedade marcada pelo controle, pela propaganda e pelo uso do terror.

Palavras-chave: Totalitarismo. As origens do Totalitarismo. 1984

 

Márcio Norberto Farias

Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

Professor na Universidade de Lavras

marxio@gmail.com

 

VÍCIO PELAS TELAS DIGITAIS: CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO DE CHRISTOPH TÜRCKE PARA A EDUCAÇÃO CORPORAL.

 

Esse ensaio ilustra o resultado de uma reflexão crítica sobre as possíveis consequências da permanência das pessoas diante das telas digitais de transmissão de imagens com suporte em aparelhos eletrônicos. O escopo é refletir sobre a educação do movimento e a formação de uma consciência de si, tendo em consideração o sujeito concebido como um ser corpóreo e sensível. Na primeira seção são destacados aspectos de uma tendência histórica e social nas práticas de atividades físicas que se integram às imagens em movimento transmitidas pelos mais diversos tipos de aparelhos-suportes de exibição, como forma de estimular as pessoas a se movimentarem. Em um segundo momento, tal tendência é refletida tendo como base a teoria do filósofo alemão Christoph Türcke, especialmente seus argumentos em torno do fluxo permanente dos microchoques provenientes das telas eletrônicas e seus efeitos sobre capacidade de representação e percepção humana. A hipótese do texto é que a integração das telas do imagético-eletrônico às práticas de atividades físicas, alijada de uma reflexão histórico-social crítica, tende a dificultar ainda mais a capacidade de as pessoas perceberem as consequências da eletroestimulação audiovisual sobre os seus próprios corpos, assim como sobre os seus relacionamentos com aquilo que efetivamente está em seu entorno, cujo resultado pode ser a alienação corporal.


Palavras-chaves: Vício, Telas Digitais, Corporeidade, Educação, Alienação.

 

Marcos Roberto Nunes Costa

Doutor em Filosofia pela PUCRS

Professor em Filosofia da UFPE

marcosnunescosta@hotmail.com

 

A SÍNTESE DO TEOCRACISMO PAPAL EM EGÍDIO ROMANO

 

Contra a tendência aristotélico/tomista de separação-independência dos dois Poderes – espiritual e temporal -, e inserida no contexto da luta entre Igreja e Estados nacionais, surge, no século XIII, as mais fortes expressões do hierocracismo medieval, cujo principal teórico ou defensor é Egídio Romano, escritor da mais importante obra política medieval, intitulada “Sobre o Poder Eclesiástico”, que seria a grande síntese da luta em defesa da teocracia papal na Idade Média. Eis o que apresentaremos neste trabalho.

Palavras-chave: Egídio Romano; Hierocracismo medieval; Teocracia papal; Filosofia política medieval.

 

Marconi Pimentel Pequeno

Doutor em Filosofia pela Université de Strasbourg

Professor Titular do Dept. Filosofia/UFPB

 

VIOLÊNCIA E REVOLUÇÃO

 

Os problemas ligados à violência são numerosos, complexos e de natureza distinta. O tema suscita indagações concernentes à legitimidade do seu emprego e à sua justificação racional, seja ela de caráter defensivo, preventivo ou punitivo. A investigação filosófica da violência pretende identificar sua natureza, seus fundamentos e o aspecto difuso de suas múltiplas formas de expressão. Além disso, o problema da razão de ser da violência nos coloca em face da questão do irracionalismo e, sobretudo, da tentativa de justificação racional do seu emprego. Mais ainda, ele suscita questionamentos sobre a fraqueza da vontade, a autonomia do sujeito e a prática deliberada do mal. Assim, tal como a questão da violência, o problema do mal também se revela desafiador ao nosso pensamento. Sobre o referido tema, podemos formular indagações do tipo: o que é o mal? Qual a sua origem? Por que a violência lhe é relacionada? Seria aceitável o uso da violência para se evitar um mal maior? Ou ainda, a violência, enquanto expressão de um mal necessário, deve ser praticada ou mesmo tolerada? Nesse sentido, a violência revolucionária poderia ser moral e racionalmente justificada? Tais interrogações nos colocam no coração do problema que envolve a violência, a questão do mal e os processos revolucionários.  Eis alguns dos temas que trataremos em nossa exposição.

 

 

 

Maria Aparecida Vieira de Melo

Doutoranda em Educação pela UFPB

Professora do Dept. Administração e Planejamento Educacional da UFPE

m_aparecida_v_melo@hotmail.com

 

MICHEL FOUCAULT: A PRÁTICA DA PESQUISA ARQUEOLÓGICA

 

O corpus Arqueologia do Saber de Michel Foucault (2008) é uma fonte que tende a operar com a produção do conhecimento de forma singular, haja vista que elide a interpretação como comumente se faz no ato da pesquisa social. A arqueologia da análise do discurso tem como território de escavação a linguagem – ser signo, enquanto complexo social. O objetivo deste texto é escavar a teoria da análise do discurso (TAD) da fonte em análise; descrever as categorias analíticas, como discurso, enunciado, prática discursiva, formação discursiva, materialidade, análise e descrição que permeiam o procedimento metodológico da pesquisa e explicitar os achados que são oriundos da escavação do corpus em análise e descrição. A curiosidade de natureza arqueológica do discurso é como a teoria da análise do discurso nos empodera para pesquisar desse modo e não de outro? O procedimento metodológico é o analítico/argumentativo sobre a fonte em tela. Ao pesquisar sobre a Arqueologia do Saber foi achado o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos (GEPEJA/UFPB), sob a liderança do Professor e Doutor Erenildo João Carlos que ao longo de 10 anos vem operando metodologicamente com o corpus em análise, com produção de projetos, pesquisas, dissertações e teses, usando Michel Foucault em Arqueologia do Saber. Por conseguinte, é pertinente afirmar que a Arqueologia do Saber é uma fonte que opera metodologicamente com a produção do conhecimento não pela epistemologia, mas pela arqueologia que tem uma singularidade em seu modus operandi.

Palavras-Chave: Procedimento metodológico. Arqueologia do Saber. Michel Foucault.

 

Maria do Carmo Batista da Silva

Mestranda do Programa PROF FILO – UFPE

mariakrueger_44@hotmail.com

 

LINGUAGEM COMO FORMA DE ALCANCE DOS OBJETIVOS PEDAGÓGICOS

Tentamos neste presente trabalho expor uma alternativa de comunicação e inter-relação entre educando e educador, através dos jogos de linguagem, nos baseando nas premissas da filosofia da linguagem de Wittgenstein. Assim sendo, à mudança qualitativa que vislumbramos alcançar com essa pesquisa é uma real ponte de ligação entre educador e educando, vindos de diferentes contextos e criando um novo contexto escolar como lugar de comunicação que pode ser repensando a partir da perspectiva dos jogos de linguagem. No âmbito da linguagem, somos capazes de fazer usos adequados das palavras. O manuseio didático da linguagem pode direcionar a atenção do educador para a possibilidade de se sugerir novas formas de abordagens que estimulem a diversidade desses usos. Tais usos constituem, o pensamento de Wittgenstein, jogos que funcionam como atividades que contém em si a necessidade de regras para o seu desempenho factual. Nas ações e reações rotineiras, é a habilidade e o domínio da técnica que assegurará a efetivação dos objetivos. Desta feita, podemos definir a linguagem como sendo o conjunto oriundo de uma ação com atuação interligada entre a linguagem e a atividade co-relacionada, orientação que permeia uma verdadeira forma de vida e de comportamento humano. Dos elementos que caracterizam o conceito de jogos de linguagem, o educador poderá transmitir qualquer conteúdo com clareza e ressonância de resultado. O fator elementariedade reside na certeza de que não haverá nada mais elementar que o apresentado. A redução, a clareza pela simplicidade de comunicar.O nosso intuito de pesquisa será sempre limitado às obras da segunda fase do filósofo austríaco Wittgenstein, sobretudo no tocante a obra Investigações Filosóficas cujo principal intento é a demonstração da variedade de espécies de jogos de linguagem. Uma vez satisfeito com clareza de ação o projeto em curso, observaremos a possibilidade de experimentação em “loquo”, juntamente com os educandos. Na sala de aula e motivados pela ludicidade, que pela própria natureza aglutina interesses, teremos com exatidão o propósito realizado: A utilização de conceitos filosóficos para a formação de agentes críticos e questionadores.

Palavras Chaves: Jogos de Linguagem, Educação, Prática

 

Marta Maria Aragão Maciel

Doutora em Filosofia pelo PPGF/UFPB/UFPE/UFRN

maciel_mart@yahoo.com.br

 

O ROMANTISMO REVOLUCIONÁRIO DE ERNST BLOCH: A PROPÓSITO DA RELAÇÃO ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA

Em uma nota de edição posterior do seu Thomas Münzer: teólogo da revolução (1922), Ernst Bloch caracteriza sua produção teórica como romântico-revolucionária. Tratando este livro como um apêndice ao seu O Espírito da utopia (1918/1923), o filósofo alemão diz que o romantismo revolucionário presente nessas obras “encontra medida e determinação no livro Das Prinzip Hoffnung”. A presente apresentação busca refletir o significado do romantismo revolucionário de Bloch no interior de seu intuito em “salvar”, na direção do marxismo, a herança cultural do passado por ele denominada como herança intacta. A preocupação teórica com o domínio da cultura se mostra como central no âmbito da reflexão política e marxista, por ser fundamental a compreensão do legado cultural e sua apropriação crítica. Nas linhas dessa discussão, situa-se uma reflexão acerca da relação entre memória e história. Na herança intacta que deve ser apropriada pelo marxismo na direção da crítica do presente, por exemplo, o autor recusa o esquecimento que a historiografia oficial legou a Münzer, teólogo da revolução, “esquecido, desde que coubera ao vencedor escrever a história”. Assim, um “uso diabólico” deve ser efetuado ao fazer a apropriação, para o presente, de ampla herança intacta do passado: uma vasta tradição que inclui uma utopia social como a de Thomas Morus, uma utopia técnica como Nova Atlântida, o expressionismo e as lutas camponesas em fins da Idade Média.

 

Narbal M. Fontes

Prof. Associado do Dept. Filosofia da UFPB

Doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho

nmfmarsillac@gmail.com

 

O CARÁTER RETÓRICO DAS TEORIAS MORAIS

Como contemporaneamente constatou Tugendhat, não há fundamentação absoluta para juízos morais. O que nos força a reconhecer com o pensador alemão que neste âmbito "não podemos alcançar mais do que plausibilidade", revelando parecer ter escapado às suas reflexões o caráter propriamente tópico-retórico deste lugar de mediania entre razão e arbítrio. Entendida como a arte de encontrar em cada contexto concreto o que é mais persuasivo, a retórica torna-se assim o último recurso para formulações éticas nem necessárias nem arbitrárias, mas razoáveis e plausíveis. A proposta é acompanhar essa recente e destinal retoricização das diferentes teorias morais.

 

Natália T. Rodrigues

Mestranda em Filosofia pela UFPB

natecoufcg@gmail.com

 

A IMPORTÂNCIA DA CATEGORIA MARXIANA DE ESTRANHAMENTO PARA A CRÍTICA SOCIAL FEMINISTA

O objetivo deste trabalho é apresentar a hipótese de trabalho que vem sendo investigada pela aluna no curso de mestrado em Filosofia na UFPB. Para tanto, busca-se em um primeiro momento apresentar aquilo que se considera a problemática central de sua pesquisa que será a fragmentação do feminismo atual, este que é marcado teórica e fundamentalmente pela obra de Judith Butler Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Feita uma pequena consideração sobre o que representa tal livro e suas implicações para o feminismo atual, a autora buscará apresentar sua hipótese de que a teoria social feminista teria muito a ganhar com o acréscimo da categoria marxiana de estranhamento/alienação. Isto porque, tal categoria ampliaria a dimensão da opressão de sexo e de gênero no qual as mulheres perpassam ainda nos dias de hoje. Baseando-se nos Manuscritos Econômicos Filosóficos de Marx e na Ontologia do Ser Social II de Lukács, a autora irá defender que a ideologia do ter, cerne da propriedade privada, circunscrita nas relações capitalistas, expressam-se não somente no espectro das relações econômicas, mas sim nas relações sociais como um todo, o que inclui as relações sociais nas quais as mulheres estão inseridas. Deste modo, trazer a categoria marxiana de estranhamento/alienação para dentro da crítica social feminista, implicaria trazer um “unidade” desconsiderada na obra de Butler, principal expoente do feminismo atual, isto porque falar de estranhamento/alienação implica trazer à tona o chão social no qual a luta pela emancipação feminista se coloca, o capitalismo, forma social esta que foi pouco, ou mesmo negligenciadas no desdobramento do feminismo recente.

 

Pedro Claudemir da Cruz Costa

Mestrando em Filosofia pela UFRN

pedrocosta.uepb@gmail.com

Adelino Pereira da Silva

Doutorando em Filosofia pelo PIPGF/UFPB

ade.lino@yahoo.com.br

 

UMA PERSPECTIVA RAWLSIANA DOS ACONTECIMENTOS INDÍGENAS NO BRASIL

 

O presente trabalho realiza uma análise dos acontecimentos indígenas no Brasil no período do segundo semestre de 2016 ao primeiro de 2017 na perspectiva da justiça como equidade do filósofo americano John Rawls. A teoria de Rawls mostra a que só é possível construir um sistema "igualitário" quando as instituições atuam de maneira forte para promover políticas que beneficiam a todos, e de modo especial as minorias. Com todo o aparato desenvolvido por Rawls, o estudo vai no sentido de mostrar que a atuação do governo brasileiro deveria melhorar as ações com os indígenas e, mais ainda, que as decisões são totalmente contrárias à promoção da equidade.

 

Palavras-chave: John Rawls. Indígenas. Equidade

 

 

Pedro Henrique Ciucci da Silva

Doutorando-PUC/SP

pedrociucci@yahoo.com.br

 

GRAMSCI E A REVOLUÇÃO PERMANENTE

 

Conceito criado por Marx e Engels, para expressar a ideia de que o processo revolucionário de 1848 não deveria ser interrompida com as conquistas democrático-burguesas, mas deveria ser levado adiante até a vitória das forças proletárias. O conceito de Revolução permanente, para Gramsci, nascera das experiências jacobinas de 1789 ao Termidor e tem sua afirmação em um período histórico caracterizado pela falta de grandes partidos políticos de massa e de grandes sindicatos econômicos. Na ciência política, a forma da Revolução permanente própria de 1848 é elaborada e superada pela fórmula da hegemonia civil. Gramsci explica a Revolução permanente como antecedente político da instituição de um regime parlamentar fundado sobre a hegemonia política da classe burguesa urbanizada na França. Esse conceito implica um esquema histórico, em princípio, um movimento revolucionário das estruturas estatais e econômicas inflamado pelas forças sociais emergentes e, por fim, uma institucionalização do movimento em uma forma histórica concreta: o Estado constitucional e o mercado capitalista. A Revolução permanente facilita a emancipação de classe e promove a iniciativa econômica e a promoção social. Toda sociedade está em contínuo processo de formação e de dissolução, seguida de formações mais complexas e ricas de possibilidades, isto é, dura até a época do imperialismo e culmina na crise de 2008. O resultado da Revolução permanente seria, então o de levar todo o sistema político a um equilíbrio catastrófico, do qual emergiria somente a hipótese simplificadora do cesarismo, que, todavia não resolve os problemas da estabilidade política.

 

Rafaella Silveira Sucupira da Costa

Mestranda em filosofia pela UFPB.

rafaellassilveir@hotmail.com

 

O PAPEL DA RAZÃO PRÁTICA NA FILOSOFIA MORAL DE IMMANUEL KANT

 

O objetivo principal do presente artigo é compreender o papel prático da razão na filosofia moral de Immanuel Kant, tanto em seus aspectos instrumentais (como meio para alcançar um fim determinado) quanto em seus aspectos morais (como determinante da ação moral). Mais especificamente, pretendemos tratar do papel relevante que a razão prática desempenha na fundamentação da moralidade kantiana, posto que Kant não apenas admite o uso instrumental da razão, mas defende, ainda, que a razão tem função determinante na ação moral. Ou seja, o objetivo central deste artigo permeia a compreensão da razão prática em todos os seus aspectos, visto que na filosofia kantiana ela é o próprio fundamento da moral. Portanto, para esse fim, o presente artigo, será dividido em três seções. Primeiramente, Os princípios da razão prática. Em seguida, Os imperativos hipotéticos e o uso instrumental da razão prática. E, por fim, O imperativo categórico e suas formulações. Na primeira seção, buscamos analisar o conceito de razão prática e seus princípios, o conceito de vontade, o conceito de dever e da definição conceitual dos imperativos em geral da razão prática. Na segunda seção, almejamos entender a concepção de racionalidade instrumental proposta por Kant e para isso investigaremos o conceito de imperativos hipotéticos, os seus dois modos de possibilidade (destreza e prudência) e o conceito de bom enquanto meio para um fim. Na terceira seção, buscamos depreender o conceito de imperativo categórico, suas formulações e sua relação com o dever moral. Em vista disso, tomaremos como base, sobretudo, a seguinte obra kantiana: Fundamentação da Metafísica dos Costumes. No entanto, além dessa obra utilizaremos outras obras do autor a fim de melhor esclarecer o problema aqui investigado. A título de exemplo segue as seguintes obras referenciadas no presente artigo: Manual dos Curso de Lógica Geral, Metafísica dos Costumes, Crítica da Razão Pura e Crítica da Razão Prática. Além das obras citadas utilizaremos algumas referências secundárias.

Palavras-chave: Razão Prática. Imperativos. Immanuel Kant

 

Ricardo Evangelista Brandão

Doutor em Filosofia pelo PIPGF/UFPE/UFPB/UFRN

Professor efetivo de filosofia do Instituto Federal de Pernambuco

ricardobrand75@gmail.com

 

O AMOR COMO JUSTIÇA SOCIAL EM AGOSTINHO DE HIPONA: BREVE ANÁLISE AO COMENTÁRIO À PRIMEIRA EPÍSTOLA DE SÃO JOÃO

 

Partindo do conceito de justiça presente no Livro XIX do De civitate Dei, notadamente que justiça é “dar a cada qual o que é seu”, investigaremos até que ponto o amor (dilectio) trabalhado no Comentário à Primeira Epístola de São João, pode ser interpretado como justiça social. Levando em consideração que essa Epístola é um dos mais duros textos de cobrança do amor para o cristão no Novo Testamento, Agostinho compreende as consequências da abundância e da falta do amor de forma eminentemente social, visto que por meio do amor se é impossível ficar insensível ante à miséria da injustiça social, que fabrica tantos miseráveis. Assim, a vera justitia seria demonstrada pelo amor incondicional ao próximo, não permitindo que seu semelhante fique na miséria, todavia, esse auxilio outrossim não pode se traduzir em uma dependência constante entre o auxiliado e o auxiliador, pois quando essa situação de dependência se perpetua, o auxiliado naturalmente nutrirá um sentimento de superioridade perante o auxiliado, e esse último se pensará inferior ao que o auxilia. De forma que o amor demonstrado pela vera justitia se configura em emergencialmente tirar o pobre da miséria, e rito contínuo trabalhar para que ele adquira autonomia e dignidade.

Palavras-chave: Amor, Verdadeira justiça, justiça social.

 

Rodrigo José de Lima

Doutorando em Filosofia pelo PIPGF/UFPE/UFPB/UFRN.

rodrigoapologista@yahoo.com.br

 

O ESTATUTO EPISTÊMICO DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA NO SISTEMA DAS CIÊNCIAS ESPECULATIVAS SEGUNDO TOMÁS

 

A classificação das ciências, tema quer acompanha grande parte da história da filosofia, resultou na proposta de diversos modelos tanto dos seres quanto das ciências responsáveis por seus estudos. O nosso interesse no presente artigo consiste em analisar o estatuto epistêmico da psicologia de Tomás de Aquino, concebida como ciência especulativa, fortemente marcada por pressupostos de natureza metafísica e ao mesmo tempo exaltadora dos efeitos sensíveis como princípio de investigação. Em outras palavras, explicitaremos a posição que sua psicologia ocupa dentro de um quadro teórico que postula diferentes objetos, que por pertencerem a distintas ciências demonstram suas conclusões de maneira diferente, e consequentemente possuem níveis epistêmicos heterogêneos.

Palavras-chave: Classificação das ciências; Psicologia; Tomás de Aquino.

 

Rychard K. de A. Cintra

Mestrando na Universidade Federal de Pernambuco

rychard.cintra@ufpe.br

 

IDEIA DO INFINITO ENQUANTO EXPERIÊNCIA MORAL NO ‘TOTALIDADE E INFINITO’ DE EMMANUEL LEVINAS

A ideia do infinito, magistralmente significada nas meditações cartesianas, busca justificar um sujeito cuja simples evidência não é capaz de, por si só, fundamentá-lo. O finito à procura do sentido de sua finitude parece encontrar, no final da terceira meditação, apoio exterior a sua clareza e evidência na existência do ser divino. As análises presentes na obra ‘Totalidade e infinito’ têm em vista, sobretudo, interpretar o recurso de Descartes à ideia do infinito como possibilidade de se pensar uma abertura à alteridade e todas as consequências filosóficas que esta maneira de conceber o transcendente torna possível. A capacidade humana de representar, tematizar de, enfim, constituir um mundo e estar diante de uma objetividade suporia esse recurso, suporia a imposição do infinito enquanto linguagem, o que nos remete a uma intencionalidade peculiar que se refere ainda a uma consciência constituinte, mas que é capaz de tornar o mundo objetivo porque, fora do eu, torna a verdade possível. Assim, a ideia do infinito manifestaria o acontecer da linguagem que já não é mais significada como um conjunto de estruturas, representações ou signos a partir dos quais a objetividade pode ser tema em relação a um sujeito, mas enquanto sua condição de possibilidade, um mundo objetivo pode ser tema, portanto, porque há na própria significação uma ligação inevitável com outra inteligência também capaz de significar, de questionar o signo e o mundo significado. Temos então a linguagem do rosto descrita pelas análises levinasianas que produzem um terreno fértil para uma possível metafísica da alteridade.

 

Saulo Bandeira de Oliveira Marques

Mestrando em Filosofia pela UFPB.

sbmarques@gmail.com

 

O RÉTOR COMO DEINÓS: UM CONTRAPONTO À LEITURA MORALISTA DE EUGENE RYAN DA ARTE RETÓRICA DE ARISTÓTELES

 

Embora sob razões distintas, há algumas leituras da Arte Retórica que a concebem como um tratado moral ou moralizante, no todo ou em parte. Entre essas perspectivas, principalmente com base na Ética a Nicômaco e na Política, há leitores que equiparam o rétor ao phrónimos ou ao spoudaios, a exemplo de Eugene Ryan. Desde as características inerentes àqueles arquétipos, Ryan faz do rétor o modelo de cidadão da polis, cuja atuação defenderia e/ou promoveria o ethos social. Em contraposição a essa interpretação da retórica como uma atividade intrinsecamente moral, como a pretendem Ryan e os demais adeptos da vertente moralista, considera-se a retórica como uma espécime de deinotēs, advogando por um caráter prioritariamente ambivalente no âmbito moral. Esse entendimento parte das distinções entre technē e phronēsis e entre phronēsis e deinotēs na Ética a Nicômaco, especialmente a última, a qual serve de guia para interpretar as feições da retórica em Retórica 1355b17-21 não como dois tipos de raciocínio ou duas naturezas de retórica, mas um método cuja atenção está no resultado alcançado, independentemente do fim almejado. A leitura da retórica como deinotēs revela o seu caráter técnico: enquanto arte, a retórica nem é virtude, nem é astúcia desonesta; é, sim, uma “razão” do contingente, uma habilidade do juízo prático que, pela observação da realidade circundante em sua busca para “encontrar os meios mais pertinentes para persuadir” (Retórica, 1355b25-26), auxilia a especular o e agir no Mundo.

 

Palavras-chave: Retórica. Deinotēs. Moral.

 

 

Sérgio Freitas de Lima

Mestrando em Filosofia pela UFPE.

sergiofreitas250@gmail.com

O CONCEITO DE ABSTRAÇÃO A PARTIR DA SUMA TEOLÓGICA DE TOMÁS DE AQUINO

No pensamento de São Tomás de Aquino, o objeto próprio do conhecimento humano é a natureza existente na matéria, a saber, a forma ou quididade. Ele defende que, ao menos, no estado de vida presente, a alma tem a capacidade de conhecer essas espécies (formas), por meio de um processo natural chamado de abstração. Nesta perspectiva, o Aquinate apresenta uma tese que se opõe ao inatismo de caráter platônico. Para tal, postula que o intelecto agente – componente ativo do intelecto humano - produz a intelecção da natureza dos objetos presentes no mundo real. Essa intelecção é feita pela abstração das formas inteligíveis dos fantasmas e “informando” ao intelecto possível, que por sua vez, torna em ato, caracterizando assim, o conhecimento. Portanto, o objetivo deste texto é expor a abstração intelectiva, segundo são Tomás, examinando seu raciocino, sem grandes pretensões.

Palavras-chave: Tomás de Aquino; Conhecimento; Abstração; Intelecto agente; Intelecto possível.

 

Suzana Albornoz

Doutora em Filosofia pela UFMG

Professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURGS) 

albornoz.suzanaguerra@gmail.com

 

A UTOPIA CONCRETA DO HOMEM CORDIAL

 

A palavra utopia, formada pela junção da partícula grega où - negação, mais tòpos - lugar, pelo que se chega a oùtopos – o sem lugar, aquilo que não tem lugar, aparece em 1516, no romance Utopia do filósofo e político inglês Thomas More (1478-1535). Na Renascença foram muitos os romances de cunho político a explorar o mundo imaginário como o da ilha da Utopia de Morus, cidade mítica e exemplar, de modo que se afirmou um gênero literário moderno dos romances utópicos e, ao mesmo tempo, no termo utopia se misturou um conteúdo ambíguo que combina où-topos e eu-topos, o da cidade impossível e o da cidade perfeita. Nos séculos XVI, XVII e XVIII foram muitos os romances filosóficos políticos e utópicos, embora não fossem os primeiros, pois já cabem no gênero A república, de Platão, e A cidade de Deus, de Agostinho. No século XIX, embora ainda conservando a conotação de algo impossível de ser realizado, surgiram utopias com pretensão prática, que não eram meras quimeras ou devaneios imaginários, mas projetos sociais, como se constata nas obras ao mesmo tempo filosóficas, literárias e práticas dos socialistas utópicos Saint-Simon, Proudhon ou Fourier, na França, e Owen, na Inglaterra. Quando o socialismo de Marx e Engels, a seguir, se apresenta como científico, por oposição aos socialismos utópicos, mantém-se a conotação negativa, de impossível, no conceito de utopia. Apenas no início do século XX surgiria uma revalorização da utopia, provavelmente ligado aos efeitos materiais inegáveis dos sonhos dos cientistas engenheiros e técnicos inventores que faziam a riqueza daquele tempo, reconhecendo-se a capacidade que tem a utopia de crítica da realidade e impulso à transformação. Nesse contexto se iniciava o trabalho de Ernst Bloch (1885-1977), cujo primeiro grande livro, Espírito da utopia (1918), completa um século. Aquela enigmática filosofia tem em seu centro o ainda não ser e a possibilidade. O conceito de utopia concreta ali se esclarece como oposto de utopia abstrata e se explicita na fenomenologia de O princípio esperança (1959). No Capítulo XVIII desta obra, ao tratar da categoria da possibilidade, desenvolve-se uma extraordinária distinção dos níveis do possível, onde se define o plano da utopia concreta, aquela que pode passar de possibilidade para realidade, como o do quarto nível do possível, do possível dialético ou possível real. Sobre o pano de fundo da história da produção utópica, da filosofia da esperança e da conceituação de utopia concreta no pensamento de Ernst Bloch, será feita uma passagem transdisciplinar para a reflexão histórica em que Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), em Raízes do Brasil (1936), ao se referir à índole brasileira, imortalizou a expressão homem cordial. Embora sujeita a crítica, essa interpretação permite compreender melhor o caráter, o sonho, talvez as frustrações da alma brasileira. Ao considerar o homem cordial como utopia concreta, e ao reconhecer o que no Brasil impede a cordialidade porque sustenta a violência, chega-se à proposta de assumir o homem cordial como um projeto.

 

Tarciano Silva Batista

Mestrando em Filosofia pela UFPB

tarciiano@hotmail.com

 

NACIONALIZAR A VIDA E POLITIZAR A MORTE: A BIOPOLÍTICA EM AGAMBEN

Entre os pensadores que se dedicam atualmente ao debate político, está o filósofo italiano Giorgio Agamben. No último capítulo de uma de suas principais obras – Homo Sacer I: o poder soberano e a vida nua (1995), o autor afirma que: “vida e morte não são propriamente conceitos científicos, mas conceitos políticos, que, enquanto tais, adquirem um significado preciso somente através de uma decisão”. Nesse sentido, temos como ponto central a problematização entre a relação vida, morte e política na sociedade contemporânea, bem como, a possibilidade de pensar essa relação quando, divididos na origem e articulados entre si através do poder do Estado, a vida humana torna-se “sacrificável”, isto é, vida nua e a morte uma decisão política. Temos como objetivo e proposta o debate sobre a vida (dos judeus, mulçumanos, dos gays, etc.) que não pode pertencer ao conjunto (Estado, Nação, etc.), pois, é excluída por mecanismo e dispositivos de exceção (exercito, policia, etc.), mas a qual está desde sempre incluída (pela constituição familiar, leis, vínculos afetivos, etc.). No sentido de pensarmos como essas vidas nuas, quando chegam nas salas de reanimação, onde os “falso vivo” flutuam entre o viver e o morrer, momento caracterizado pela perda das funções da vida de relação (consciência, mobilidade, sensibilidade, reflexos), vem a constituir uma decisão política que envolve mecanismo e formas de dominação do Estado.

Palavras-chave: Vida. Morte. Política. Agamben.

 

Tayane Cristine Ferreira Clemente da Silva

Mestranda em filosofia pela UFPB

tayane_chrystine@hotmail.com

 

O FASCISMO E AS MASSAS: UMA ANÁLISE DA TEORIA FREUDIANA SOBRE O CONTÁGIO DO ÓDIO

 

O objetivo dessa comunicação consiste em abordar o fenômeno social do fascismo e do comportamento dos indivíduos em grupo pelo viés da teoria freudiana da psicologia das massas, fenômeno este que teve grande influência em alguns países no século XX, tendo seu surgimento na Itália, o qual serviu de inspiração para o nazismo na Alemanha. Tal ideologia foi adotada principalmente por seu forte caráter nacionalista e autoritário como meio de salvação para a crise econômica. Abordaremos a distinção entre o comportamento da vida psíquisa do ser individual e a alma coletiva visando compreender as três principais questões que surgem nesse estudo sobre o comportamento das massas, que são: o que é uma massa, agrupamento, multidão? Como essa massa pode exercer influência na vida psíquica do ser individual? Em que consiste a modificação da psiqué que esta massa impõe ao indivíduo? De acordo com Freud, como veremos, o inconsciente possui um papel fundamental nas ações humanas, e segundo Le Bon o senso de responsabilidade dos atos dos indivíduos na massa não existe, dado que este se sente autorizado a ceder aos instintos inconscientes que, enquanto ser individual, antes controlava. Freud sustenta que os novos aspectos presentes no indivíduo da massa são exatamente o que antes, enquanto ser individual, não eram expostos e que ganha voz na massa. Outro ponto importante da abordagem de Freud e Le Bon são os aspectos do contágio e da sugestão presentes na massa, importantes para entender como o fascismo ganha adeptos ao discurso de ódio, contágio este que pode ser compreendido à luz dos estudos sobre hipnose de Freud. Portanto, adotando a premissa de que o indivíduo na massa cede aos instintos mais primitivos e anticivilizatórios, a conclusão que se chega é que tal indivíduo não é mais consciente dos seus atos, pois é orientado por um discurso hipnotizador e deixa predominar uma personalidade inconsciente.

 

Palavras-chave: Fascismo. Comportamento. Ser individual. Alma coletiva.

 

 

Thiago Lira Alves Agostinho

Doutorando em Filosofia Prática pela UFPB, orientado pelo prof. Dr. Giuseppe Tosi (PPGFIL/UFPB)

thigs.lira@gmail.com

 

O CONCEITO DE CATARSE: NOTAS PARA UMA APROXIMAÇÃO DA FILOSOFIA DE A. GRAMSCI COM A TEORIA PSICANALÍTICA

 

O termo catarse, do grego kátharsis, foi originalmente proposto por Aristóteles para designar o processo de purgação das paixões produzidas no espectador quando este assistia a uma tragédia, tradição popularmente encenada no período arcaico. Na filosofia contemporânea, esse conceito é recuperado tanto pela teoria psicanalítica como também pelo comunista italiano Antonio Gramsci. Pretende-se, neste sentido, elucidar de que modo a concepção gramsciana converge para a acepção psicanalítica (ambas tributadas ao conceito aristotélico) sobre a catarse, na medida em que a filosofia, ao se distinguir apenas em grau da ideologia, é uma concepção de mundo integral e universalizante porque se apresenta uma catarse, isto é, traduz a vida intelectual e moral de um determinado grupo social sobre toda a sociedade. Com isso, é possível analisar como ocorre a repercussão da ideologia, tanto em nível individual como coletivo, o que nos leva a constatar uma ambivalência do conceito: isto é, a ideologia tanto possui uma operacionalidade consciente e também inconsciente. Assim, fica evidenciado que os usos em que o termo “inconsciente” é adotado nos Cadernos do Cárcere não apenas denota os estados de fuga da consciência, mas se atribui sobretudo como parte da própria construção da personalidade dos sujeitos, sendo então um estado inerente a toda constituição da subjetividade, ancorada sob a dupla perspectiva, consciente e inconsciente. Denominamos esse movimento de manejo da subjetividade, à luz da operacionalidade da ideologia conforme os exercícios da hegemonia, de subjetivação. Desse modo, também é possível afirmar seu espectro contrário: o processo de des-subjetivação, que fomenta uma condição de subalternidade, ao atender fins de dominação. Este itinerário tem como intuito salientar o lugar que a autonomia ocupa na teoria da hegemonia que Gramsci delineou nos Cadernos – visto que a noção de autonomia não pode ser destituída da ideia de sujeito. O percalço definido até aqui se realiza mediante a contribuição fundamental da psicanálise, quando se percebe a articulação entre o conceito de catarse freudiano e a definição que aparece ao longo dos Quaderni de Gramsci.

Palavras-chave: catarse, filosofia, ideologia, psicanálise, subjetividade.

 

 

Valkíria Oliveira de Melo

Mestranda em Filosofia pela UFPB

valkiria.olliveira@hotmail.com

 

MARGUERITE PORETE E MESTRE ECKHART: ENTRE MISTICISMO E ÉTICA?

 

Nesse trabalho buscaremos desenvolver o que Marguerite Porete e Mestre Eckhart sinalizam como ética, isso ocorrerá através da mística (experiência mística) que os autores relatam/expõem em seus livros: O Espelho das Almas Simples e Sermões Alemães e O Livro da divina consolação. Buscaremos compreender como poder-se-ia desenvolver uma noção ética através de uma experiência ou caminho místico. Porete e Eckhart no processo de aniquilamento/desprendimento sugerem que as almas devam se desprender do mundo e, consequentemente, este não poderá mais influencia-los ou causa-los algum dano, tudo isso é necessário para que aconteça a experiência mística com o Divino. Embora pareça um pouco contraditório pensar a ética nesses dois autores, já que ambos acreditam que se deve deixar as “coisas do mundo” para terem as revelações divina. Esse momento de deixar o mundo, no sentido de que ele não pode mais influencia-los ou causar algum mal, só leva cada vez mais (quanto mais elevado for sua experiência mística) tais almas a perceberem os outros, no sentido de realmente enxergarem as outras pessoas e suas necessidades. Assim, quanto mais elas se afastam do mundo mais elas/almas aniquiladas conseguirão agir de forma mais coerente com seu próximo, sem que, por exemplo, as honras e riquezas interfiram no seu modo de agir. Nesse sentido, refletiremos sobre a mística não apenas como uma revelação para uma finalidade particular, mais como um caminho de conhecimento e ação diferente para com o próximo, enxergando Deus em todas as criaturas.

Palavras-chave: Mística. Ética. Divino.

 

 

Viviane Magalhães Pereira

Doutora em Filosofia pela PUCRS

Professora da Universidade Estadual do Ceará

viviane.pereira@uece.br

 

UM ESBOÇO DA ÉTICA HERMENÊUTICA DO DIÁLOGO

 

Nesta palestra será apresentado um esboço do estudo cujo objetivo principal é a elaboração de uma base conceitual capaz de justificar a plausibilidade da “ética hermenêutica do diálogo”. Tal base conceitual se encontra em grande medida na ontologia hermenêutica de Hans-Georg Gadamer (1900-2002), segundo a qual não há nem uma instância transcendente, nem transcendental não histórica, que possa servir como critério capaz de justificar qualquer princípio filosófico. Contudo, opondo-se às posturas relativistas, com essa hermenêutica filosófica se defende um “transcendental histórico”, a finitude, que ao invés de ser uma limitação radical no tocante à formulação de um princípio ético e à defesa de sua universalidade, é a sua condição mesma de possibilidade. Ademais, nossa hipótese central é de que em toda hermenêutica de Gadamer a dimensão ética é indissociável da teórica, assim como ocorre na ética dialética platônica, embora por razões distintas, uma vez que na hermenêutica filosófica a dimensão da práxis histórico-linguística é determinante. Já do ponto de vista do conteúdo, o conceito de “compreensão hermenêutica” é uma atualização do conceito platônico-aristotélico de phrónesis, mas se justifica também em parte com a questão do juízo ético kantiano. Pensa-se aqui que as exposições de Enrico Berti, Friederike Rese e Dennis Schmidt sobre a dimensão ética da hermenêutica, seja por influência da ética platônico-aristotélica e/ou da kantiana, complementam-se, e ainda, para além dos trabalhos desses autores, busca-se reelaborar alguns conceitos e noções que aparecem na hermenêutica gadameriana. Partiremos do potencial ético dos conceitos de experiência, história continuamente influente, aplicação, presentes na obra magna de Gadamer, Verdade e método (1960), bem como dos conceitos de participação, solidariedade, diálogo, apresentados em textos tardios, e daremos continuidade à argumentação a favor de tal ética, com conceitos como diferença, escuta e partilha. Em uma época do choque entre as diversas culturas e da vontade de que cada uma pleiteie o seu direito de valer diante das demais, uma ética, cujo princípio é expresso pela possibilidade do diálogo e da escuta, tem a chance de ter suas razões apresentadas ante as de outras concepções.

 

Palavras-chave: Ética; Hermenêutica; Práxis; Diálogo; Escuta.

 

 

 

 

 

Wécio Pinheiro Araújo

Professor adjunto da UFPB.

Doutorando em filosofia pelo PIPGF/UFPE/UFPB/UFRN

weciop@bol.com.br

 

OS SENTIDOS DO BOLSONARISMO: CRÍTICA DA IDEOLOGIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Apresentamos o epítome de uma crítica ontológica da ideologia a partir do resgate da concepção dialética da ideia em Hegel. Segundo ele, todos os processos de constituição do ser consciente passam pela mediação da ideia. É por meio da ideia que o ser humano produz e vivencia o conteúdo social da realidade concreta enquanto produto da urdidura entre o trabalho e a linguagem. Para além da singularidade do indivíduo, isso significa que a ideia adquire uma forma social concreta de os seres humanos vivenciarem o conteúdo das relações estabelecidas em uma sociedade, surgindo assim a forma ideologia, isto é, quando a ideia adquire uma forma social complexa e abrangente. Desse modo, analisamos a questão da ideologia como uma totalidade formada a partir de mediações disparadas por meio da contradição fundamental que desenhamos enquanto uma distensão formada por rupturas e continuidades entre: de um lado, o conteúdo das relações sociais historicamente estabelecidas (a efetividade); e de outro, a forma que adquire consciência a maneira como essas relações são vivenciadas pelos indivíduos na sociedade moderna sob a mediação da forma ideologia (a aparência). Sob esta concepção de totalidade, a ideia não é algo apenas abstrato, mas concreto enquanto um condensado de mediações entre objetividade e subjetividade; entre realidade e idealidade, pois por ser dotado de consciência, em momento algum da sua realidade, o ser humano pode se desvencilhar da ideia. Assim, a ideologia não diz respeito apenas à representação mental e subjetiva do mundo material, mas sobretudo à forma como os indivíduos vivenciam o conteúdo das relações sociais historicamente estabelecidas sob a mediação da ideia em uma sociedade permeada de contradições. A ideia se constitui exatamente no conduto de passagem no processo que nos constitui como seres humanos, a saber: a relação entre realidade e consciência soerguida a partir da interação produtiva entre o trabalho e a linguagem. Realidade e idealidade se impõem como dimensões inseparáveis e constituintes do nosso ser e, consequentemente, do nosso modo de agir, pensar, sentir, perceber e interagir uns com os outros envolvidos naquilo que reconhecemos e vivenciamos como real. No mundo humano, toda realidade comporta uma dimensão ideológica. O perigo social da ideologia é quando só se enxerga o outro como ideológico. No Brasil, a ousadia da ignorância canalizada e amplificada sob o viés ideológico autoritário do bolsonarismo, adquire um formato bizarro e perigoso aos valores democráticos conquistados sob duras penas na recente história da democracia brasileira: o combate à ideologia sob uma pretensão ideológica autoritária de desprezo e eliminação do outro ideológico. O bolsonarismo transcende a figura de Jair Bosolnaro, pois, ao se tornar ideologia, o “mito” se tornou um sujeito político coletivo autônomo e raivoso, e a sua maior vítima é a frágil democracia brasileira. A mediação ontológica da ideologia entre conteúdo e forma pode ser explicada em poucas palavras: o conteúdo das “verdades” produzidas pelo bolsonarismo, apesar de não ter qualquer fundamento senão o preconceito, é vivenciado como real com implicações concretas; essas “verdades” são vivenciadas como realidades prontas e evidentes. E assim são reproduzidas em escala ideológica como fatos inquestionáveis que, para serem combatidos, justifica-se recorrer ao crime e à violência.

 

Palavras-chave: Ideia. Ontologia. Ideologia. Brasil. Bolsonarismo.